De acordo com o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (CDC África), pelo menos quatro ensaios clínicos foram registados nos Estados Unidos para serem feitos em África.

Três destes ensaios propõe-se estudar as vantagens dos medicamentos usados no tratamento da malária (cloroquina e hidroxocloroquina), do Ébola (remdesivir) e do VIH (lopinavir/ritonavir), bem como da combinação entre a aspirina e os medicamentos usados para o tratamento da pressão arterial (losartan) e colesterol (simvastatin).

Um quarto ensaio pretende explorar a aplicação no tratamento das infeções pelo novo coronavírus das propriedades antimicrobianas do mel.

Patrocinado pela Washington University School of Medicine, o primeiro estudo clínico quer estudar o uso da cloroquina e da hidroxocloroquina em trabalhadores do setor da saúde na África do Sul com riscos acrescidos de contraírem o vírus SARS-CoV-2.

O estudo deverá envolver 55 mil participantes e estar concluído em fevereiro de 2021.

“O ensaio prioriza a proteção dos trabalhadores de saúde como uma estratégia de prevenir o colapso dos serviços sanitários”, segundo a descrição.

Um outro ensaio, promovido pela London School of Hygiene and Tropical Medicine, será desenvolvido em vários países do mundo, incluindo em África, e irá avaliar os efeitos da combinação de doses diárias de aspirina (75mg), losartan (100 mg) e simvastatin (80 mg) em 10.000 doentes hospitalizados com infeções por covid-19.

A Misr University for Science and Technology, do Egito, depositou uma proposta de ensaio clínico que se propõe explorar as potencialidades antimicrobianas do mel natural no tratamento de doentes com covid-19.

“Foi demonstrado em várias investigações que o mel natural é um potente antimicrobiano e foi considerada uma boa alternativa às drogas antirretrovirais para o tratamento de algumas infeções virais”, resumem os responsáveis pela proposta.

Os investigadores irão estudar a eficácia do mel no tratamento de doentes de covid-19 numa amostra aleatória de 1.000 participantes sujeitos a tratamentos “tipo”, ou seja, com uma combinação de cloroquina ou hidroxocloroquina e antibióticos ou antirretrovirais.

Será ainda realizado em África o ensaio clínico internacional “Solidarity”, lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que deverá envolver hospitais de 90 países em todo o mundo.

O estudo vai testar quatro opções de tratamento já existentes para avaliar a sua eficiência no tratamento de doentes com covid-19.

Serão usados a cloroquina ou a hidoxocloroquina (malária), o remdesivir (Ébola), a combinação dos antirretrovirais lopinavir/ritonavir (HIV) e destes com o interferon -beta, usado para tratar a esclerose múltipla.

O objetivo do ensaio é perceber se alguma destas combinações atrasa a progressão da doença ou melhora as taxas de sobrevivência.

A OMS estima, com este método de investigação, reduzir em 80% o tempo habitualmente necessário para a obtenção de resultados neste tipo de ensaios clínicos.

A realização de ensaios clínicos em África suscitou polémica recentemente quando dois médicos franceses sugeriram testar primeiro no continente a eficácia da vacina da tuberculose (BCG) na prevenção da covid-19.

As declarações dos médicos, que, entretanto, pediram desculpas, suscitaram um coro de reações de indignação no continente, mas também da OMS.

Uma das reações foi do diretor do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (CDC África), Jonh Nkengasong, que assegurou que apenas “ensaios clínicos ética e cientificamente corretos” serão realizados no continente.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para 874 nas últimas horas com mais de 16 mil casos registados em 52 países.

Segundo o boletim do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (CDC África), nas últimas 24 horas, o número de mortes registadas subiu de 815 para 874 enquanto as infeções aumentaram de 15.284 para 16.285.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou quase 127 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 428 mil doentes foram considerados curados.