“Cabral presente, hoje e sempre” e “25 de Abril também é Cabral” foram algumas das muitas palavras de ordem que encheram de som a Avenida da Liberdade, em Lisboa, durante a primeira Marxa Cabral em Portugal, organizada pelo Movimento Negro, e que juntou milhares de pessoas.
Com um súmbia, o chapéu que era a imagem de marca de Amílcar Cabral, Ronaldo Mendes, um jovem guineense a estudar em Portugal, disse à agência Lusa que decidiu descer a avenida para “celebrar Cabral”.
“Estamos no ano do centenário de Amílcar Cabral, com várias atividades, e esta é uma delas, que o traz presente”.
Para Ronaldo, a principal mensagem do “pai” da independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau é que é preciso continuar a luta, “mais uma vez, por um mundo melhor”.
Vânia Andrade, do movimento negro em Portugal e uma das organizadoras do evento, sublinhou a importância da figura de Cabral, “um líder do povo africano que foi um homem que esteve muito presente no 25 de Abril”.
E lamentou que, apesar disso, Cabral não tenha, nos últimos 50 anos, estado mais presente nas celebrações de Abril, o que o evento pretende mudar.
“Para nós é importante trazermos de novo o nome de Amílcar Cabral, que falta nos nossos livros, e um pouco no nosso dia a dia, mas não quer dizer que não esteja presente”, disse, afirmando: “É importante recordar a Portugal que Amílcar Cabral não morreu, está vivo”.
Para Yussef, das Conferências Africanas e organizador desta Marxa, Cabral é uma das entidades que remete para algo comum, que é uma história comum, uma história de resistência, de luta política.
“A unidade política importa. Amílcar Cabral consegue concentrar todas as resistências que existiam: antifascista, anticolonialista”, disse.
Paula Almeida, que participou na organização da marxa, embora não pertença a nenhum movimento, assume-se cabralista, ou seja, “alguém que defende os valores de Cabral”, que passam por “ver o mundo de uma forma muito humanitária”.
“Mutas vezes estamos com ideologias e esquecemos o homem que Amílcar Cabral é: um homem que se preocupa com o homem, estamos a falar de valores da humanidade, da igualdade, da não colonização. Quem é bom e quer o bem não coloniza ninguém, não é racista, não é fascista e não é xenófobo”, afirmou.
Flávio Almada, do Movimento Vida Justa, fez questão de estar presente no evento, até porque reconhece em alguns valores de Cabral o que reivindica para a sociedade atual: “Direito ao salário, habitação, contra a violência policial, acesso aos transportes públicos, acesso à cultura e à cidade”.
“Extraímos muitas lições ensinadas por Amílcar Cabral. Para nós é uma data que deve ser celebrada, reconhecida, não só uma celebração, mas um dia de luta por melhores condições de vida e dignidade”, afirmou.
E adiantou: “Cumprir Cabral é cumprir Abril. A luta de libertação no continente africano e a luta antifascista aqui [em Portugal] estiveram sempre lado a lado e Amílcar Cabral sempre enfatizou que estavam a lutar contra o mesmo tipo de opressor”.
No final da marcha será lida a “Declaração Panafricanista de Lisboa - Cabral Sempre!” que elege setembro como o mês das marchas Cabral, compostas por pessoas que “agem e pensam pela própria cabeça”.
No documento, as três dezenas de organizações do movimento negro em Portugal subscritoras explicam que a realização das marchas Cabral em setembro, mês em que se assinala o aniversário do nascimento de Amílcar Cabral, que este ano completaria 100 anos de vida, deverão ser um grito “contra as guerras, a miséria, a injustiça e as fomes”, bem como “contra o extrativismo e a exploração que empobrecem e matam os povos do sul global e todas as formas de vida, sobretudo em África”, entre outras injustiças a combater.
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