Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, chegando ao posto de coronel, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
Aos 19 anos entra na Escola do Exército, termina o curso de oficial quatro anos mais tarde e é promovido a aspirante de arma de artilharia. A sua formação militar refletiu-se, como reconheceu em várias entrevistas, na sua vida, assumindo-se como “inconformista, generoso, temperamental e espetacular”.
No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano, foi ele o “mentor” do plano que culminou com o golpe militar que levou ao cerco do Largo do Carmo, em Lisboa, e ditou o fim da ditadura e, daí, ser conhecido como o estratego do 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril, assumiu a liderança do Comando Operacional do Continente (COPCON), durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por vários dezenas de atentados e 13 mortes, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista.
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, a partir do quartel da Pontinha, em Lisboa, Otelo comandou as operações militares que derrubariam o regime, transformando-se num símbolo da “Revolução dos Cravos”, e reclamou para si a escolha de ‘Grândola’, a “canção do Zeca”, como senha para o golpe militar que mudaria a História de Portugal.
“Podia ser o ‘Venham mais cinco’ ou ‘Traz outro amigo também’. Acabou por ser a ‘Grândola’, porque as outras estavam no índex da censura”, recordou Otelo em entrevista à agência Lusa, em que falou sobre “o turbilhão de amizade” que o uniu a Zeca Afonso, cantor que o apoiou nas presidenciais de 1976, quando obteve 16,46%, mais do que Octávio Pato, apoiado pelo PCP.
Em 25 de julho de 1975, faz hoje exatamente 46 anos, o MFA, reunido em Tancos, criava o Diretório Político, integrado por Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho, o triunvirato.
Esteve no centro das decisões e atenções do pós 25 de Abril, na qualidade de comandante do COPCON e, quando este foi dissolvido, em 25 de novembro de 1975, saiu também do Conselho da Revolução.
Após a publicação do relatório preliminar do 25 de Novembro, o movimento militar que opôs os militares "moderados" e a chamada "esquerda militar", foi preso em 20 de janeiro de 1976, durante 44 dias, no presídio militar de Santarém.
Em 1976, organizações populares de base apresentam-no como candidato à presidência da República, obtendo 16% dos votos. E em 1980, fundou o partido Força de Unidade Popular (FUP), que defendia um socialismo de base, "participado", tendo sido extinto em 2004.
Agraciado em 1983 com a Ordem da Liberdade pelo então Presidente da República, Ramalho Eanes, Otelo foi detido em 20 de junho do ano seguinte sob a acusação de ter fundado, promovido e dirigido uma organização terrorista, espelhada nas FP-25 de Abril.
Em 20 de maio de 1987, após um julgamento de cerca de dois anos, o qual mobilizou e dividiu a opinião pública interna e externa, Otelo é condenado a 15 anos de prisão, pena agravada para 19 anos de cadeia, por acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 25 de novembro de 1987.
Recorre ao Tribunal Constitucional que se pronuncia pela inconstitucionalidade de algumas questões, desencadeando o envio do processo para o Supremo Tribunal de Justiça, pondo em causa o seu valor jurídico e abrindo a porta à sua nulidade.
Para obviar a controvérsia que o seu caso despertou, foi indultado, mas Otelo recusou as culpas e reivindicou uma amnistia para todos os presos políticos do caso FP-25. Em 1996, o parlamento aprovou uma amnistia, no meio de grande polémica, para os elementos presos das FP-25.
O capitão de Abril, que assumiu “beber até à ultima gota o cálice amargo da injustiça” – escreveu-o na sua mensagem de 25 de abril de 1985, lida no exterior do Forte de Caxias – desencadeou várias petições e foi considerado pelo jornal francês Liberation como “cobaia da normalização”.
A sua prisão não deixou ninguém indiferente. Otelo reiterou sempre a sua inocência, admitindo uma certa ingenuidade na sua conduta, e recusou métodos de terrorismo.
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