"Não queremos a deposição dos dragados no local onde estava previsto pela APSS, Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, na denominada `restinga, Zona A´, mas sim na zona da cana, a sul de barra, com cerca de 600 metros de profundidade, que é, aliás, o local onde sempre se têm depositado as lamas recolhidas nas dragagens de manutenção do canal de navegação do porto de Setúbal", disse, em conferência de imprensa, Ricardo Santos, da Sesibal, Cooperativa de Pesca de Setúbal e Sesimbra.
"Trata-se de uma zona riquíssima em várias espécies, designadamente raia, salmonete, linguado, polvo e choco, entre outras, e que é fundamental para mais de 300 pescadores", acrescentou Ricardo Santos, na conferência de imprensa conjunta das três associações de pesca de Setúbal: Sesibal, Bivalmar e Pesca Artesanal.
Apesar de assumirem claramente que a comunidade piscatória não tem particular simpatia pela APSS, pela falta de condições de trabalho e dos investimentos necessários na doca de pesca, que ainda têm de partilhar com as embarcações marítimo-turísticas, os pescadores reconhecem que a APSS foi, até agora, a única entidade que respondeu às suas preocupações sobre as dragagens.
De acordo com as associações de pesca, em encontros separados já realizados com as associações de pesca de Setúbal, a APSS admitiu mesmo a possibilidade de celebrar um protocolo sobre a mudança do local de deposição dos dragados.
"Não queremos a deposição de dragados naquele local. Não temos conhecimentos técnicos, mas temos conhecimentos práticos. Não se trata de sermos a favor ou contra as dragagens, porque se as pudéssemos impedir não as permitíamos, mas de minimizar os impactos negativos", corroborou Carlos Pratas, da Bivalmar, acrescentando, com ironia, que tem "ciúmes dos golfinhos, que suscitam maior preocupação do que os próprios pescadores".
Independentemente do receio de eventuais consequências da deposição do material proveniente das dragagens no local escolhido inicialmente, mas que a APSS parece agora estar disposta a mudar, os pescadores lembram que as dragagens acabam por ter sempre consequências nefastas em termos ambientais.
"Quando se fizeram as dragagens no estuário do Sado para permitir a entrada de barcos para a antiga Setenave, desapareceram espécies como os búzios, que apanhávamos às toneladas todos os dias, desapareceram as ostras e muitas outras", recordou Paulo Jorge, da associação de Pesca Artesanal, lembrando que, outrora, o rio Sado também era rico em ligueirão, navalhas e santolas, espécies que, entretanto, também desapareceram.
Além das preocupações ambientais, os pescadores também receiam que a deposição dos dragados na zona da restinga, uma zona de baixio, também possa vir a dificultar a manobra das embarcações de pesca, que poderiam ver-se obrigadas a ir à barra para conseguirem navegar para sul.
As dragagens para alargamento e aprofundamento do canal de navegação do porto de Setúbal preveem a retirada de cerca de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do estuário do Sado.
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