“Sabemos, todos os dias, que um acidente nuclear ou um acidente com graves consequências radiológicas pode acontecer a qualquer momento, por isso estou tão preocupado”, afirmou aos jornalistas o responsável da AIEA, Rafael Grossi, em Kiev, onde se avistou hoje com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
A respeito da maior central nuclear da Europa e dos combates em torno de Zaporijia, o diplomata argentino lembrou que está há meses a insistir no “imprescindível estabelecimento de uma zona de proteção ao redor da unidade”.
Após quase 11 meses desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, Grossi lamentou que se tenha criado uma sensação de rotina com os alertas da “chegada do lobo”, mas alertou que um desastre “pode acontecer a qualquer momento”.
O diplomata argentino evocou o desastre nuclear na central Fukushima, no Japão, em 2011, na sequência de um terremoto seguido de um ‘tsunami’, no qual a culpa foi atribuída à “mãe Natureza”.
“Quem vamos culpar se algo acontecer?” agora, questionou, descrevendo a situação em Zaporijia como “muito precária”, com a ocorrência de explosões próximas da central nuclear.
Mesmo que não haja nova ofensiva russa na região, a unidade “está sempre na linha de frente”, sublinhou.
Após o encontro com Zelensky, Grossi revelou que pretende reunir-se em breve com o Presidente russo, Vladimir Putin, igualmente para o convencer sobre a criação de uma zona de proteção.
O diretor da AIEA disse que todas as partes concordam que a central deve ser protegida, acrescentando que tem mantido uma “colaboração profissional” com as autoridades russas.
Grossi referiu que as questões que está a levantar são “objetivas e técnicas” e que “devem ser cumpridas” por todas as partes.
“Não podemos esquecer que os padrões de segurança que estamos a tentar aplicar foram acordados por todo o mundo”, declarou.
O diplomata encontra-se na Ucrânia para acompanhar uma missão de envio de técnicos da AIEA para todas as centrais nucleares na Ucrânia como parte dos seus esforços para prevenir acidentes devido à guerra iniciada pela Rússia.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e quase oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.031 civis mortos e 11.327 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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