Por estes dias, as vinhas do Douro enchem-se de trabalhadores e a região de turistas.
No entanto, a covid-19 está a obrigar as quintas a adaptaram-se a uma nova realidade em 2020 e, por isso, algumas optaram por cancelar os programas pagos em que os turistas iam para a vinha e cortavam as uvas junto dos vindimadores e depois entravam nos lagares tradicionais de granito para a pisa a pé.
“Decidimos cancelar para proteger a nossa matéria-prima mais importante e separar as duas áreas de negócio, o turismo e a produção”, afirmou à agência Lusa Cláudia Ferreira, da Quinta do Vallado, em Peso da Régua.
A responsável pela área do turismo desta propriedade histórica no Douro disse que esta foi uma “decisão muito ponderada”, que o objetivo é proteger os trabalhadores que estão a vindimar e os visitantes e apontou que os turistas podem na mesma vivenciar a experiência de vindima, mas sem participar.
Ou seja, quer os hóspedes do hotel da propriedade quer os visitantes diários podem observar, com distanciamento, a azáfama, o trabalho na vinha e o transporte das uvas para a adega. Podem também continuar a fazer as provas de vinho e a visita à adega com “proteção e algumas regras”.
“Quem nos visita nesta altura vem à procura de viver a experiência da vindima e tirar-lhes isso por completo penso que seria um pecado, temos é de fazer isto de forma muito cuidadosa”, salientou Cláudia Ferreira.
Até porque, acrescentou, “não se pode trabalhar um ano inteiro para agora deitar tudo a perder”.
Na Quinta do Pôpa, Vanessa Ferreira prefere falar em adiamento das novidades que estavam a ser preparadas para esta vindima na unidade de enoturismo localizada em Tabuaço.
O programa de um dia inteiro de vindima, com corte de uvas, transporte de cestos, partilha de cânticos tradicionais, almoço típico e lagarada foi também cancelado, uma decisão conciliada entre as equipas de enoturismo e de enologia.
“A época das vindimas é a mais procurada e as pessoas efetivamente querem viver essa experiência e nós também nos divertimos imenso em receber e explicar todo o processo, o atual mais mecanizado e também como se fazia antigamente para perceberem o valor e a dificuldade de fazer os vinhos no Douro”, salientou.
E continuou: “Mas, dentro desta situação e mantendo a segurança da nossa equipa e das equipas das empresas externas, subcontratadas, e também dos nossos visitantes, consideramos que não é viável”.
Não há programas de vindima, mas as portas da propriedade estão abertas. Aqui o “tempo para”, tal como estão parados os muitos relógios que se espalham pelo edifício e já fazem parte da sua história, e quem chega pode espalhar-se pelo espaço exterior que tem o rio Douro aos pés.
Este ano são maioritariamente os portugueses que sobem ao Pôpa, enquanto, até ao ano passado, 95% dos clientes eram estrangeiros.
Cláudia e Nuno Cortez e os filhos Sofia e António chegaram ao Douro depois de passarem pelo Algarve e Alentejo. Este ano decidiram repartir o período de férias “cá dentro” e foram até ao Pôpa para uma prova de vinhos.
Ficaram alojados em Tabuaço depois de perceberem que o “alojamento estava muito cheio este ano no Douro”. “Estamos a fazer visitas a várias vinícolas e compramos um bocadinho de vinho em algumas. Também é uma forma de investir no nosso país e de encher a nossa garrafeira”, salientou Cláudia Cortez.
No Douro, os programas turísticos são desenhados para todos os gostos e carteiras e incluem provas de vinhos, visitas guiadas a vinhas e adegas, almoços típicos, piqueniques, percursos pedestres ou passeios de barco.
Quinta adapta programa de vindima para não fechar Douro no ponto alto
Nesta vindima marcada pela pandemia, a Quinta da Avessada, Alijó, mantém o programa turístico com corte de uvas e lagarada mas com limitação de participantes e desinfeção regular das tesouras, baldes e até do mosto no lagar.
“Não queremos fechar a região do Douro no seu ponto mais alto”, afirmou à agência Lusa Luís Barros, da Quinta da Avessada, localizada em Favaios, concelho de Alijó, distrito de Vila Real.
Na propriedade já se vindima, o programa turístico decorrerá até outubro, mas, segundo o responsável, “com muitas restrições” e uma “forte aposta na segurança dos clientes”.
Luís Barros especificou que todos os turistas que chegam à propriedade têm de passar num túnel de desinfeção para a higienização da roupa e corpo. Cada grupo não pode ter mais de 25 pessoas, quando anteriormente ascendiam aos 50.
Depois, todos os baldes e tesouras entregues aos visitantes estarão também desinfetados e, na vinha, os participantes estarão dispersos por uma área delimitada, nunca se cruzando com os vindimadores da quinta.
Haverá também a obrigatoriedade do uso de máscara e há álcool gel espalhado pela propriedade.
No lagar instalado na enoteca, um pequeno museu interativo alusivo à história e cultura da vinha e do vinho na região do Douro, só vão poder entrar 10 pessoas de cada vez, ficando os restantes elementos do grupo no jardim exterior a assistir a uma peça pelo Grupo Teatral de Favaios.
“Vamos brincar um pouco este ano. A ideia é permitir a quem nos visita molhar os pés no mosto, mas com estas uvas, este ano, não se vai fazer vinho, porque tudo vai ser higienizado antes do próximo grupo”, explicou.
A realidade, segundo Luís Barros, agora “é outra”. “Esta adaptação é para não perdermos a tradição. É um pouco diferente, mas penso que o espírito está cá”, frisou.
O preço do programa mantém-se, mas são acrescentados serviços como a peça de teatro.
A Quinta da Avessada está preparada para receber grupos para refeições, provas e visitas à enoteca e tem capacidade para acolher até 300 pessoas em simultâneo.
Depois da paragem provocada pela covid-19, a propriedade reabriu em junho e recebeu um “balde de água fria”.
“Rapidamente tivemos várias reservas de portugueses, mas depois não apareceu ninguém. Os portugueses começaram a responder à chamada a partir de julho e tem sido um ‘boom’. É a prata da casa que nos está a manter à tona”, referiu.
O mercado nacional representava 10% para esta quinta e, este ano, é “90%”. São maioritariamente portugueses, mas à Avessada também vão chegando estrangeiros.
Nadine Hoeger é ‘cruise manager’ e acompanhou um grupo de 15 alemães, que chegou ao cais do Pinhão a bordo de um barco hotel, até à quinta duriense.
À Lusa disse que o retomar da operação tem corrido bem e apontou as medidas que estão a ser implementadas para reforçar a segurança quer dos passageiros como da tripulação.
Nomeadamente, frisou, também no cais de Gaia os turistas têm de passar num túnel ou pórtico de desinfeção e são obrigados a fazer um teste rápido à covid-19 que dá o resultado em “10 a 15 minutos” e tem uma fiabilidade de 90%.
“É uma medida extra de precaução que inspira confiança no próprio cliente”, frisou.
Em agosto de 2019, passaram pela Avessada cerca de 11.000 pessoas. Neste mês homólogo de 2020, o número de clientes deverá fixar-se, segundo Luís Barros, entre os 4.000 a 5.000.
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