Ana Jorge, que se mantém como provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) enquanto não é nomeada uma nova equipa de administração, abordou esta noite as questões relativas à sua exoneração.
"Foi de certo modo uma surpresa. Primeiro porque eu tinha estado com a senhora ministra primeiramente no dia 12 de abril e nessa conversa ela surpreendeu-se de eu não ter pedido ainda para ser recebida por causa da situação da Santa Casa e eu disse que a situação estava a ficar um bocadinho mais composta, ainda que com muitos problemas. Falámos e transmiti-lhe que estaria disponível para continuar", começou por dizer Ana Jorge, salientando depois a resposta da ministra.
"E perante isto que disse, que estava disponível para continuar, ela disse que sim, não disse que não. Fez-me várias perguntas, falámos sobre vários assuntos. Ela disse que confiava e perguntou-me quantos lugares vagos tinha na mesa. Perguntou-me sobre todos os membros da mesa, com quem queria ficar, se queria ficar com todos, se não queria", disse, referindo, ainda assim, ter ficado "preocupado com algumas questões que" a ministra lhe colocou.
"Levei-lhe alguns documentos sobre a Santa Casa, documentos importantes, de todas as áreas. E o que aconteceu foi que a ministra perguntou-me se com esta situação financeira eu não tinha um plano de reestruturação. Se eu tinha um plano com metas, eu disse que não, que tinha metas a atingir, não estão definidas metas. Ela disse que tinha de fazer um plano. Disse então que ia pensar. Ainda nesta reunião a senhora perguntou-me quantas pessoas é que eu queria despedir. E eu disse lhe, não estou a pensar despedir ninguém, a não ser pessoas que queiram sair ou com reformas antecipadas", disse, considerando que "em algumas áreas, na Santa Casa, o número de trabalhadores poderá ser elevado".
Questionada se a Santa Casa é um local onde os partidos procuram colocar os seus "boys", "jobs for the boys", Ana Jorge respondeu assim: "Durante alguns anos isso aconteceu, transversalmente a todas as alterações partidárias. Mas não foi isso que fez aumentar o número de trabalhadores. Em 2011 e 2013 a Santa Casa recebeu 30 equipamentos da Segurança Social com trabalhadores, depois em 2019 integrou mais auxiliares, 700 na altura, e agora por último, desde há dois anos, abrimos por delegação de funções também da Segurança Social os grupos de apoio à infância e juventude, nomeadamente técnicos, e além de abranger Lisboa, abrange Amadora, Cascais, Oeiras, Mafra, Odivelas, Sintra e Vila Franca. São mais trabalhadores para a Santa Casa", refere, abordando depois a reunião de dia 29, quando é informada da sua exoneração.
"Disse-me que o Governo tinha decidido mudar a mesa toda. E perguntou-me se queria colocar o lugar à disposição e me dispensava dos 60 dias obrigatórios ou teria de ser exonerada. Eu pedi-lhe tempo para pensar, pois tinha de falar com os meus colegas de mesa. Senti que tinha de partilhar com eles e foi decidido que nenhum de nós colocaria o lugar à disposição", afirmou, salientando não estar a pensar vir a processar a ministra.
"Neste momento não estou a pensar nisso. Só gostaria de saber o que se passou entre o dia 12 e o dia 29".
Confrontada também com o despacho de exoneração, onde é acusada de ações negligentes que afetaram a gestão da Santa Casa, Ana Jorge diz que "não afetou a gestão da Santa Casa e que foi uma surpresa grave" a situação que encontrou.
"O que descobrimos é inimaginável, um desastre financeiro, de organização, trabalhadores revoltados. Responsabilizo a anterior gestão".
"Entregámos à ministra um relatório financeiro com todas as medidas que tínhamos feito, foram suficientes para finalizarmos o ano de 2023 com resultados positivos e se compararmos o relatório e contas de 2023 com o orçamento da anterior mesa, a diferença é esta. O orçamento da anterior mesa estavam contemplados 60 milhões de venda de património para as contas ficarem equilibradas. Nós não vendemos património, introduzimos todas as obrigações de carta de conforto, que são de muito valor, e o resultado foi positivo. Eu pergunto então o que não é gestão", salienta, referindo que as despesas não são só "nos recursos humanos", são "nos contratos transversais, seguranças, limpezas, concursos de aquisição de valores, etc".
Ana Jorge revelou-se ainda preocupado com a descida do jogo no ano de 2024, "era preciso dar uma nova vida aos jogos, re renovar, controlar o que se está a fazer". "Os jogos físicos são importantes para a Santa Casa e Portugal, geram 19 mil postos de trabalho. São estes mediadores que podem valorizar o jogo, de outra forma atrativa. Era importante encontrar alguém que pudesse dar um impulso aos jogos", disse, completando a entrevista com a convicção que conseguiria dar a volta à situação da Misericórdia de Lisboa.
"Nós conseguimos acalmar e dar paz à Santa Casa", concluiu.
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