Nascido David Cornwell, mas conhecido pelo globo por John Le Carré, mudou de nacionalidade antes de morrer, com 89 anos.
O seu filho, Nicholas, confirmou à BBC que foi a sua desilusão com o que o Reino Unido se tornou e com o Brexit em particular que o levaram a descobrir as suas raízes irlandesas e a mudar de nacionalidade para a do país vizinho, escreve a Reuters.
Depois de se dar conta de que tinha origens irlandesas, o escritor viajou para o sul da República da Irlanda.
A mesma informação foi hoje também revelada pelo escritor Philippe Sands, num artigo de opinião publicado pelo jornal The Times. "John Le Carré, cronista dos ingleses, morreu sendo irlandês", escreveu Sands, adiantando que foi Nicholas que lhe fez essa admissão enquanto preparava um programa de rádio sobre John Le Carré.
"Foi para Cork, de onde sua avó era, e foi recebido pela arquivista da cidade num lugar muito pequeno", que lhe "disse 'bem-vindo ao lar'", terá dito Nicholas a Sands.
Esta visita causou-lhe um "transtorno emocional", assegura o amigo, acrescentando que, "quando morreu, já era cidadão irlandês". Segundo Nick, "uma das últimas fotos" que tem do seu pai mostra-o "sentado, enrolado numa bandeira irlandesa, a sorrir".
John Le Carré faleceu em dezembro, aos 89 anos. Escreveu 25 romances e um volume de memórias, "O túnel de pombos" (2016). Vendeu, no total, mais de 70 milhões de livros no mundo inteiro.
Para a sua obra literária, inspirou-se na sua carreira anterior como agente secreto, que terminou quando o duplo agente britânico Kim Philby revelou quem era ao KGB, obrigando-o a terminar o trabalho para o MI16.
Como os primeiros livros foram escritos quando já trabalhava como espião, os superiores exigiram que usasse um pseudónimo para não ser reconhecido, e escolheu o apelido francês Le Carré simplesmente porque - dizia - gostava da “sonoridade vagamente misteriosa das palavras”.
No seu último romance, "Agente em campo" ("Agent Running In The Field", 2019), este eurófilo retratou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, como um "porco ignorante" e classificou o Brexit de "loucura".
O primeiro livro de le Carré, "Chamada para o Morto", vai ser reeditado e publicado a 20 de abril pela Dom Quixote em Portugal. Publicado pela primeira vez em 1961, esta edição conta com uma nova introdução do autor, escrita já em 2020, pouco antes do desaparecimento de le Carré, propositadamente para assinalar a passagem dos 60 anos deste livro.
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