O julgamento mediático está marcado há quase um ano e tem suscitado muito interesse além fronteiras, não apenas na Noruega.
O que aconteceu?
Ayan e Leila Juma chegaram à Noruega vindos da Somália quando eram ainda crianças. Já na adolescência acabaram por radicalizar-se, um processo que passou despercebido pelos pais até que elas pediram aos mesmos para começarem a usar niqabs, um véu que deixa apenas os olhos à mostra. Apesar da recusa dos pais, elas usavam-no às escondidas.
Em 2013 partiram para a Síria, Ayan com 19 e Leia com 16 anos, casando com elementos do Estado Islâmico, dois homens que também tinham abandonado a Noruega rumo aquele país.
"Amamos muito vocês os dois", a mensagem que enviaram mais tarde para os seus pais, num email com emojis de coração. "Inshallah, esta decisão ajudar-nos-à a todos no dia do julgamento."
Ambas estariam a planear a viagem há um ano. O objetivo delas, de acordo com Ayan, era fugir de casa, casar e morrer.
"Os muçulmanos estão sob ataque de todos os lados, e precisamos fazer alguma coisa. Queremos muito ajudar os muçulmanos, e a única maneira de realmente fazer isso é estar com eles, tanto no sofrimento, quanto na alegria. Ficar em casa e enviar dinheiro não é mais suficiente. Com isso em mente, decidimos viajar para a Síria e ajudar lá da melhor forma possível. Sabemos que isso parece absurdo, mas devemos ir. Tememos o que Alá nos dirá no dia do julgamento", escreveram na despedida aos pais.
Qual a história que se seguiu?
O pai de ambas, Sadiq Juma, um ex-soldado adolescente na Somália, tentou encontrar e trazer as suas filhas de volta da Síria. Conseguiu localizá-las e encontrou-se brevemente com Ayan. Esta, contudo, recusou-se a voltar para casa, e Sadiq foi posteriormente preso, interrogado e torturado antes de escapar do EI.
Posteriormente, contudo, as irmãs acabaram por voltar à Noruega. Após o colapso territorial do Estado Islâmico, as irmãs foram deslocadas para um campo de refugiados, com três filhos, e a viverem em condições consideradas terríveis.
Em 2023, dez anos após a fuga para a Síria, acabaram por ser repatriadas, concretamente em março do ano passado. À chegada à Noruega, no entanto, ambas acabaram por ser detidas, algo que já sabiam, mas mesmo assim aceitaram regressar ao país de onde tinham fugido há uma década.
Qual a razão do mediatismo destas duas irmãs?
São muitos os jovens, de ambos os sexos, que se radicalizaram e juntaram-se ao Estado Islâmico, na Síria. A história das irmãs Juma, contudo, tiveram mais impacto devido ao livro "As duas irmãs", da autora norueguesa Äsane Seierstad, que foi um sucesso mundial.
Após um brilhante trabalho de investigação, Seierstad contou ao pormenor a história das jovens. A jornalista acompanhou de perto a jornada do pai em busca das suas filhas, todas as investigações sobre a fuga e acabou então por escrever um livro que se tornou num bestseller.
Esta foi a segunda investigação de Seierstad sobre radicalização. “One of Us” (2015) contou a história de Anders Behring Breivik, que assassinou 77 pessoas na Noruega em 2011, a maioria delas adolescentes, membros de uma organização política juvenil de esquerda.
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