Em centenas de cidades dentro e fora dos EUA, as manifestações de protesto pela morte de George Floyd têm uma palavra de ordem multiplicada por milhares de cartazes, de vozes e de ‘hashtag’ nas redes sociais: #BlackLivesMatter (As Vidas Negras Importam).

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

A expressão que explodiu de novo logo após a morte de Floyd, #BlackLivesMatter, surgiu pela primeira vez em 2013 e rapidamente se tornou um movimento que passou fronteiras e se afirmou como declaração de princípios éticos contra o racismo e a xenofobia, tornando-se arma política que alguns críticos dizerem estar a ser manipulada por interesses nem sempre declarados.

Naquele ano, George Zimmerman, um vigilante de bairro voluntário na cidade de Sanford, na Florida, foi absolvido da morte a tiro de um jovem afro-americano de 17 anos, Trayvon Martin, no ano anterior, quando este saía de uma loja de conveniência.

Alicia Garza, que se viria a tornar uma influente ativista de direitos humanos, na Califórnia, interessou-se pelo caso de Martin e ficou muito abalada quando soube que o homem responsável pela sua morte tinha sido absolvido de qualquer responsabilidade.

No momento em que soube da decisão judicial, pegou no telemóvel e escreveu palavras sentidas, que foram replicadas nas redes sociais, sob um ‘hashtag’ que ficaria conhecido mundialmente: #BlackLiveMatters.

A expressão tornou-se movimento organizado, contra o racismo e a violência policial sobre as minorias negras, no ano seguinte, 2014, como reação a duas outras mortes de afro-americanos às mãos de autoridades policiais.

Em 17 de julho, Eric Garner, morreu após cerca de 20 segundos de estrangulamento, quando estava a ser detido pela polícia de Staten Island, Estado de Nova Iorque.

Alguns dias depois, em 09 de agosto, em Ferguson, Missouri, Michael Brown, um jovem negro de 18 anos, morreu, alvejado pelo oficial de polícia Darren Wilson.

Brown não estava armado, não tinha antecedentes criminais e a sua morte provocou uma forte onda de protestos, quando as pessoas ainda se recordavam do caso de Garner e decidiram manifestar o seu repúdio pela atitude da polícia, perante a minoria negra.

Os distúrbios começaram nessa mesma noite de 09 de agosto de 2014 e a expressão #BlackLiveMatters ganhou uma dimensão global e foi repetida em dezenas de cidades, por milhares de pessoas, ultrapassando fronteiras à velocidade das redes digitais.

Em janeiro de 2015, a Sociedade Americana de Dialeto declarou #BlackLivesMatter a “palavra” do ano, mas por essa altura ela já era um símbolo e o nome de um movimento cívico e político, com departamentos espalhados por todo o país.

Alicia Garza, a autora da expressão, que se tornou cofundadora desse movimento, ainda hoje confessa o espanto pela dimensão que ganharam as suas palavras, perante o desespero da absolvição de Zimmerman.

Mas os resultados dos ativistas começaram a perceber-se, logo em 2015, quando o então Presidente Barack Obama recebeu um relatório de uma ‘task force’ nomeada por si para estudar o comportamento das autoridades policiais, com recomendações para evitar descriminações racistas.

Mas os ativistas ligados ao #BlackLivesMatter mostram-se ainda hoje descontentes e invocam relatórios do Centro de Investigação para Assuntos Públicos que dizem que três em cada cinco afro-americanos dizem que eles ou seus familiares foram alvo de tratamento discriminatório por parte da polícia.

Nas recentes eleições primárias do Partido Democrata, que elegeram Joe Biden como candidato presidencial, o movimento esteve particularmente ativo, tendo sido muito crítico da candidatura do senador Bernie Sanders, que acusaram de estar excessivamente ligado a lóbis brancos.

O Presidente Donald Trump tem acusado os manifestantes contra a morte de George Floyd, incluindo os ativistas do #BlackLiveMatters, de estarem ao serviço de organizações de extrema-esquerda.

Em algumas recentes manifestações, contudo, têm surgido imagens de pessoas brancas a pintar o símbolo #BlackLivesMatter que são acusadas de estar ao serviço de outros movimentos para incriminar o movimento contra a discriminação de afro-americanos.

O procurador-geral dos EUA, William Barr, acusou o grupo Antifa (um movimento antifascista) de estar por detrás de ações radicais e violentas que têm provocado distúrbios em muitas cidades, aconselhando os ativistas do #BlackLivesMatter a não se deixarem confundir por esse grupo.

Aproveitando a notoriedade do movimento, a organização vai lançar uma série documental, na Internet, chamado “What Matters” (“o que interessa”) que procura fazer uma reflexão sobre “a liberdade, a justiça e a libertação coletiva”