De acordo com o presidente da Associação Vizinhos de Lisboa, Rui Martins, o pico de criminalidade naquela freguesia é o mais alto desde 2017.
“O que está a acontecer aqui é o mesmo tipo de crime repetido várias vezes: vidros partidos. Partem vidros de carros para terem acesso ao interior e, outras vezes, partem os vidros apenas por vandalismo gratuito”, realçou o também fundador do núcleo Vizinhos do Areeiro, que pertence à Associação Vizinhos de Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, Rui Martins disse que todos os dias há lojas com vidros partidos e roubos. Acontecem sobretudo de madrugada, quando a freguesia “se torna numa selva”.
“Há furtos de lojas, desde caixas roubadas até produtos com exposição, como tabaco. Noutros casos, parece haver apenas o intuito de destruir – como vidros partidos – e não furto aparente”, referiu o dirigente.
“De dia paz, à noite guerra. Não há memória de uma coisa tão intensa aqui”, acrescentou, adiantando que também “há casos de pedintes agressivos”, tendo sido já chamada a polícia para os conter.
A associação acredita que o bairro Portugal Novo é um foco de insegurança na freguesia, já que em torno dele “há uma presença de tráfico de droga que é evidente para toda a gente”.
Consciente da situação encontra-se o presidente da Junta de Freguesia, Fernando Braamcamp (PSD), que tem feito “todos os esforços” para resolvê-la.
“Eu tinha advertido para o facto de terem trazido os sem-abrigo para ali e que confiná-los naquele espaço [Pavilhão do Casal Vistoso] iria trazer-nos problemas. Garantiram que não, porque iriam ficar sob vigilância da Polícia Municipal e da PSP, mas nada disso aconteceu”, referiu.
Para Fernando Braamcamp, a concentração dos sem-abrigo no Pavilhão do Casal Vistoso – onde foi instalado um centro de acolhido provisório devido à pandemia de covid-19 - também fez aumentar o consumo de droga e a violência.
“Houve um surto de assaltos a carros, inclusive a pessoas, e um consumo de droga à descarada. Em qualquer sítio se drogam, sem pudor nenhum. E há alguns atos violentos contra os cidadãos”, realçou.
Em resposta enviada à agência Lusa, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP informou que “tem conhecimento das situações relatadas”, mas referiu que “são desconhecidas as causas para o aumento das ocorrências”.
“O aumento da circulação da população sem-abrigo na freguesia do Areeiro tem levado à existência de algumas queixas relacionadas com situações de ameaças para obtenção de dinheiro”, indicou, defendendo, contudo, que não existe “necessariamente uma relação direta entre estes dois fatores”.
De acordo com o Cometlis, o aumento da criminalidade pode estar “a servir como meio de financiamento ao consumo de produtos estupefacientes e bebidas alcoólicas, dependências amplamente conectadas com a população sem-abrigo”.
O comando acrescentou que foram adotadas medidas preventivas, tendo sido direcionado policiamento, através da esquadra responsável pela área da freguesia do Areeiro (a das Olaias) e de outras “valências mais específicas da Polícia de Segurança Pública”.
“O policiamento levado a cabo, o qual tem por objetivo ser o mais integral possível, absorve um conjunto de diversas valências da Polícia de Segurança Pública, para as quais concorrem todos os recursos humanos e logísticos necessários e considerados adequados”, concluiu.
Em abril, o vereador dos Direitos Sociais da Câmara de Lisboa, Manuel Grilo (BE), propôs que as pessoas em situação de sem-abrigo acolhidas em centros de emergência, devido à pandemia da covid-19, continuem a ter respostas e não regressem à rua.
O propôs também um reforço das respostas nas áreas do consumo de álcool e drogas e da saúde mental, e a manutenção dos projetos de animação e intervenção nestes espaços de acolhimento e nos que possam vir a ser criados.
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