“As pessoas vivem a casa como uma parte de si próprias, é um espelho do nosso estado de espírito. Portanto, quando a casa é reabilitada, isto faz com que a própria pessoa se reabilite a ela própria”, disse à Lusa António Belo, fundador e diretor da organização sem fins lucrativos.

Em 2010, um grupo de amigos universitários apercebeu-se de que algumas pessoas viviam “em casas sem qualquer dignidade para um ser humano” e tiveram a ideia de fundar um projeto que pretende “resolver o problema na raiz”, através da reabilitação dessas habitações.

“O nosso principal desafio é conseguir promover a reabilitação do edificado daqueles que são mais pobres, para não ser unicamente a habitação social como a única solução de que se fala e na qual se deve investir”, explicou.

Segundo António Belo, a diferença deste trabalho feito pela associação é que “não trabalha só a casa, mas, acima de tudo, as pessoas que lá vivem e a sua integração social, para que se resolva o problema de uma vez por todas e não só temporariamente”.

Além disso, não se pode esquecer o contributo dos donativos de várias instituições e empresas, empreiteiros contratados e, sobretudo, o trabalho dos voluntários que “são quem mais interage e se envolve com as pessoas”, frisou.

Segundo a associação, nos últimos dez anos, graças ao trabalho de cinco mil voluntários, já foi possível reabilitar cerca de 200 casas e 50 instituições em 14 municípios do país.

“A reação é sempre de esperança, de olhar para o mundo com novos olhos e vontade de quebrar o ciclo de pobreza para conseguir manter a casa e conseguir que a casa seja uma nova etapa para uma vida melhor”, relatou António Belo.

No entanto, neste ano de aniversário, a associação atravessa um dos seus maiores desafios devido à pandemia da covid-19, que causou a suspensão da reabilitação em cerca de 30 casas e 20 instituições.

“Por ano, trabalhamos mais ou menos em 12 concelhos e este ano só vamos trabalhar em seis, vamos trabalhar em metade das regiões onde íamos trabalhar e isso significa que mais ou menos metade das casas não vão ser reabilitadas. As razões são todas derivadas da pandemia, ou por falta de fundos locais ou por existência de algum surto”, justificou.

Neste sentido, a Just a Change celebra os seus dez anos com a certeza de que “é preciso fazer mais e arranjar mais formas de resolver o problema da habitação”.

“A reabilitação é uma das formas, mas está a dar uma resposta muito mais pequena ao problema e à dimensão do problema e, portanto, acreditamos que também é preciso alterar a legislação e políticas públicas para que projetos como este possam ser dissemináveis pelo país”, defendeu.

Como forma de mostrar a importância deste trabalho, António Belo recordou alguns dos momentos mais marcantes na vida da associação, como a reabilitação das primeiras casas em Castanheira de Pera e Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, após os incêndios de 2017 (sem ligação ao fundo Revita).

Já mais recentemente, destacou a instalação de um painel fotovoltaico numa habitação reabilitada no Porto, que assinala uma nova etapa e possibilita que “a transição energética aconteça de forma justa e que os que têm menos capacidade de investir em novas fontes de energia não fiquem para trás”.

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