Depois de atropelar várias pessoas, o motorista identificado como Yunes Abouyaaqoub, um marroquino de 22 anos, abandonou o veículo e desapareceu no meio da multidão de um mercado. Depois, roubou outro veículo e matou o homem que o conduzia.
Quando foi abatido pela polícia depois de quatro dias de fuga, havia matado 15 pessoas de nove nacionalidades diferentes, entre elas um australiano de 7 anos e um espanhol de 3, e ferido mais 100.
Cinco dos seus cúmplices imitaram-no na madrugada de 18 de agosto, atropelando peões na localidade balneária de Cambrils, a sul de Barcelona, e depois atacando-os com facas.
Uma mulher morreu esfaqueada. Os agressores foram abatidos pela polícia. Tinham 17, 19 e 24 anos.
Os investigadores reconstruíram os atentados, mas ainda procuram estabelecer se a célula extremista, da qual três membros estão na prisão, tinha efetivamente ligação com o grupo autoproclamado Estado Islâmico (EI), que reivindicou os ataques.
O que foi estabelecido é que Abdelbaki Es Satty, um marroquino de 44 anos que esteve preso por tráfico de drogas, era imã em Ripoll, uma pequena população no sopé dos Pirineus, e doutrinou inúmeros jovens, na sua maioria imigrantes marroquinos de segunda geração.
Sem conexão
O imã morreu a 16 de agosto, juntamente com outro membro da célula, numa explosão acidental quando preparavam explosivos para um atentado de envergadura muito maior.
A catedral da Sagrada Família, o Camp Nou do FC Barcelona e uma discoteca gay eram possíveis alvos desse atentado.
A destruição dos explosivos levou os jovens terroristas a improvisarem os atentados com atropelamentos coletivos, semelhantes aos de Nice, em França, em 14 de julho de 2015 (86 mortos) e outras cidades europeias.
Além das semelhanças e do facto de que o imã deixou um texto em nome dos "Soldados do Estado Islâmico", os investigadores tentaram em vão saber se a célula de Ripoll teve contactos no exterior e se receberam instruções de fora.
Nos 18 meses precedentes ao ataque, alguns membros do grupo viajaram para Suíça, França, Bélgica e Marrocos.
"Em nenhuma das linhas de investigação que temos até à presente data, encontramos de forma concreta um elemento catalisador externo dos atentados", disse à AFP o tenente-coronel Francisco Vázquez, da Guarda Civil espanhola.
Tempo para o luto
As vítimas e os sobreviventes recusam-se, na sua maioria, a evocar os factos.
Javier García, pai do pequeno Xavi, de 3 anos, morto nas Ramblas, queixou-se recentemente numa entrevista à televisão catalã que os jornalistas "não deixaram os sobreviventes viverem o seu luto".
A dor das vítimas foi rapidamente ofuscada pela recente tentativa de separatismo da Catalunha, em outubro passado, depois de um referendo de autodeterminação ilegal marcado pela violência policial.
A necessidade de respeitar as vítimas nesta data parece ter estabelecido uma trégua entre o governo central e os separatistas catalães.
As organizações separatistas pediram para que não houvesse protestos contra a presença nas cerimónias pelo aniversário dos atentados esta sexta-feira, em Barcelona, do rei Felipe VI, a quem o presidente catalão Quim Torra deixou claro que não era bem-vindo.
A tensão com Madrid marcou a investigação na Catalunha, onde a Polícia Nacional, a Guarda Civil e a polícia regional, os Mossos d'Esquadra, são igualmente competentes em termos de terrorismo.
"A rivalidade, a desconfiança e o cruzamento de acusações entre estas forças representam, sem dúvida, a nota mais negativa, além das vítimas causadas pelo próprio atentado", indicou o Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo, um centro de estudos privado.
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