“Não podemos esperar que o Presidente Xi Jinping aja com racionalidade, portanto, há muita incerteza” sobre a possibilidade de uma intervenção de Pequim no território semi-autónomo, a ex-colónia britânica administrada desde 1997 pela China.
Confrontado com protestos que têm sido marcados por violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes antigovernamentais e pró-democracia, Pequim mobilizou milhares de tropas para a cidade vizinha de Schenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção chinesa.
No domingo, contudo, o último grande protesto que a organização diz ter reunido mais de 1,7 milhões de pessoas, não registou qualquer incidente de maior.
“Quando a polícia não se mistura com a multidão, não há confrontos”, sustentou o ativista, que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018 e que lidera o Demosisto, partido que defende a autodeterminação do território.
Wong foi libertado em junho da prisão, na sequência das manifestações de 2014 em Hong Kong, conhecidas como a “Revolução dos guarda-chuvas”, uma campanha de desobediência civil que durou mais de dois meses e na qual se exigia o sufrágio universal na ex-colónia britânica administrada pela China.
Desde então, voltou a envolver-se num movimento pró-democracia “para fazer pressão sobre o Governo”, apostado “em mostrar ao mundo a determinação do povo de Hong Kong para lutar pela liberdade”, explicou.
No início de 2020, o ativista político de 22 anos, que é a estrela de um documentário da norte-americana Netflix, datado de 2017, vai publicar o seu primeiro livro em inglês através da editora britânica WH Allen.
“Procuro explicar a minha experiência na prisão e a minha jornada de combate pela democracia”, uma espécie de manifesto, adiantou.
Wong disse que se vê como “um facilitador do movimento pró-democracia” no atual momento dos protestos em Hong Kong, cujas reivindicações passaram a incluir como derradeiro objetivo o sufrágio universal.
A sua libertação da prisão aconteceu a 17 de junho, um dia após cerca de dois milhões de manifestantes terem tomado as ruas de Hong Kong, segundo a organização.
O mesmo movimento contabilizou 1,7 milhões de manifestantes no protesto pacífico de domingo, contra os 128 mil assinalados pela polícia, que não autorizou a marcha, mas apenas a concentração em Victoria Park.
O Governo de Hong Kong anunciou já hoje a criação imediata de uma “plataforma de diálogo” com “pessoas de todas as áreas sociais”, mas durante a conferência de imprensa a chefe do Executivo, Carrie Lam recusou avançar com um inquérito independente para investigar a alegada violência policial, uma das reivindicações dos manifestantes.
Os protestos, que duram há nove semanas, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes.
Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão de Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.
Para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
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