As críticas de Emídio Sousa (PSD) prendem-se com o que disse serem "movimentações" recentes na Assembleia da República a propósito da eventual desafetação da freguesia de Milheirós de Poiares do concelho da Feira para passar a integrar o município vizinho de São João da Madeira - de que o governante Pedro Nuno Santos é natural.
"Esta região nunca teve ninguém com peso político suficiente ao nível do Governo para trazer para cá o investimento na modernização da linha férrea do Vouga", começou por referir o autarca da Feira.
"Agora que tem Pedro Nuno Santos como terceiro ou quarto na hierarquia do Governo, era imperioso que ele fosse o grande reivindicador desta obra, mas, infelizmente, constato que tem depositado as suas energias em retirar uma freguesia a Santa Maria da Feira", declarou depois.
O tema da desagregação de Milheirós de Poiares do concelho da Feira para inclusão no município de São João da Madeira é discutido há longos anos e teve o seu auge em 2012, quando na freguesia disputada se realizou um referendo questionando se os residentes concordavam com a agregação ao território vizinho.
A análise de Emídio Sousa é assim a de que o governante, que é também ex-presidente da distrital do PS/Aveiro, "em vez de contribuir para a unidade entre os municípios deste território, tem vindo a fomentar uma divisão que vai levar ao ódio e pode vir a descambar num virar de costas".
O tema surgiu depois de o presidente da Câmara da Feira perceber que "têm havido movimentações" no sentido de a Assembleia da República retomar a discussão sobre eventuais mudanças aos limites territoriais da Feira e São João da Madeira, e descobrir que "quem tem estado muito por trás desse processo é o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares".
Emídio Sousa defende, por isso, que chegou o momento em que "Pedro Nuno Santos tem que pensar se quer ficar para a história como o homem que promoveu a reabilitação de uma linha férrea da região ou como o homem que fomentou a inimizade entre dois municípios vizinhos".
Para o presidente da Câmara da Feira, a escolha seria fácil: o desenvolvimento do Entre Douro e Vouga teria mais a ganhar com a reabilitação da ferrovia que há 110 anos vem unindo concelhos como Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Feira e Espinho, já que a "absolutamente necessária" modernização dessa estrutura viabilizaria uma ligação eficaz às linhas suburbanas do Porto e, em concreto, ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro - que o autarca considera "a grande fronteira" da atualidade.
Emídio Sousa disse, aliás, não compreender "que sucessivos governos nunca tenham investido numa linha férrea eficaz naquela que é provavelmente a região mais produtiva do país em termos de exportações e valor-acrescentado".
A concretizar-se a transferência do território de Milheirós de Poiares para São João da Madeira, o autarca deixa já o aviso: "O presidente da Câmara Municipal da Feira vai tomar todas as medidas para defender o seu território - e, quando digo isso, quero dizer que serão mesmo todas".
Segundo dados da Comissão Nacional de Eleições, dos 3.283 eleitores registados na freguesia compareceram nas urnas 1.773 e, desses, 1417 votaram no “Sim”, o que representa 81% dos votantes.
Quando posteriormente apreciada na Assembleia Municipal da Feira, a mudança para São João da Madeira foi, no entanto, chumbada pela maioria PSD, com a abstenção da CDU e os votos favoráveis do BE e PS.
Em 2016, novo movimento popular reuniu em petição 5.300 assinaturas por cidadãos de ambas as localidades favoráveis à anexação – a freguesia de Milheirós e a de São João da Madeira, que é a única nesse concelho – e o tema seguiu para o Parlamento.
A Câmara da Feira fez o mesmo com a contra petição que, promovida nas 21 freguesias do município, reuniu cerca de 25.000 assinaturas – no que Emídio Sousa destaca que mais de 900 eram de residentes de Milheirós.
A Lusa procurou ouvir Pedro Nuno Santos, mas tal não foi possível até ao momento.
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