No Alentejo, "estamos a receber milhares de pessoas de todo o mundo por causa de uma revolução económica que tem um nome: Alqueva". Mas, "não estamos preparados para as acolher", disse Luís Pita Ameixa, presidente da Câmara de Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja.
O regadio do Alqueva "produziu realmente uma revolução, porque mudou tudo", sobretudo a economia e as empresas e culturas agrícolas, mas a zona beneficiada "não está preparada para o impacto decorrente da chegada de milhares de imigrantes necessários para satisfazer necessidades de mão-de-obra" para realização de trabalhos agrícolas, explicou.
Tráfico de seres humanos, imigração ilegal, exploração de trabalhadores imigrantes e dificuldades em conseguir alojamento para milhares de imigrantes, o que provoca que muitos vivam em "condições indignas e infra-humanas", são problemas apontados pelo autarca.
Na zona do Alqueva, "há um problema de falta de mão-de-obra, sobretudo sazonal, para trabalhos agrícolas" e, por isso, "é necessário recorrer a milhares de imigrantes, que chegam de vários países, sobretudo da Europa do Leste e da Ásia", disse, frisando que "não há condições, nomeadamente de alojamento, para receber de repente tantas pessoas".
Segundo o autarca, a zona do Alqueva "não está preparada" para o impacto da chegada de milhares de imigrantes, "em grande medida, devido a manifestos erros cometidos no passado".
Um dos erros, indicou, está relacionado com "o papel" da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, que "não devia ser só uma empresa de construção de infraestruturas, mas também devia ser uma agência de desenvolvimento regional que preparasse a região para os impactos do projeto".
"A EDIA e o Estado limitaram-se a construir infraestruturas para levar a água do Alqueva aos terrenos na lógica do seja o que Deus quiser" e, atualmente, "já estamos no que Deus quis e não estamos preparados para enfrentar alguns problemas", nomeadamente os decorrentes da falta de mão-de-obra para trabalhos agrícolas.
Luís Pita Ameixa defendeu que "é fundamental haver uma articulação entre instituições do Estado, municípios e empresas interessadas na mão-de-obra" para "evitar" os problemas e, no caso de não ser possível evitá-los, "reagir e responder com eficácia".
"É muito importante que da parte do Governo haja uma resposta para que possamos ter realmente capacidade de acolher amigavelmente e com dignidade os imigrantes", rematou.
O autarca falava em Ferreira do Alentejo, numa sessão sobre questões relacionadas com a nova legislação de vistos de entrada e autorizações de residência de cidadãos estrangeiros em Portugal, que contou com a participação dos secretários de Estado das Comunidades Portuguesas e da Internacionalização.
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