“A 28 de janeiro o hospital de Setúbal tinha uma taxa de ocupação de 512 por cento na enfermaria e de 950 por cento em cuidados intensivos, o que significa que este hospital está a precisar urgentemente de ajuda externa”, disse Miguel Guimarães, no final de uma visita ao Hospital de São Bernardo.
“Este hospital tem que ser olhado de forma diferente pela tutela, tem que ser incluído nos hospitais absolutamente prioritários, na necessidade, por um lado, de reforçar os cuidados intensivos - os cuidados intensivos neste hospital neste momento estão esgotados -, de reforçar o número de camas, que, de facto, não são suficientes”, acrescentou.
Miguel Guimarães, que falava aos jornalistas na primeira de um conjunto de visitas a diversos hospitais do país, lembrou que há doentes nas áreas do serviço de urgência, nomeadamente nas Áreas de Doentes Respiratórios (ADR), à espera de poderem ser internados e tratados, e reconheceu que se trata de uma “situação que, obviamente, não dá qualidade de tratamento aos doentes covid”.
“Nós queremos de facto melhorar essa qualidade. Está na altura de, de forma integrada, de forma coordenada, insistir naquilo de que sempre se falou: uma coordenação regional e nacional, não só da gestão crítica de camas de cuidados intensivos, que já está a acontecer, mas também da gestão crítica de cuidados aos doentes que também são urgentes, que estão nas enfermarias”, disse.
“Nós não podemos deixar que um hospital atinja completamente o limite, que não consiga dar resposta à população que serve, quando nós temos ainda capacidade no país, nomeadamente na região e até fora da região. Nós temos que funcionar como um país, temos que funcionar com um espírito grande solidariedade, mas que tem de ser integrada por alguém altamente diferenciado: por uma comissão que não permita que hospitais como o Hospital de Setúbal atinjam completamente o limite em áreas tão importantes como são os cuidados intensivos”, frisou o bastonário dos médicos.
Para Miguel Guimarães, o Hospital de São Bernardo faz parte de um conjunto de hospitais em que a pressão “ultrapassou o limite daquilo que é aceitável, em que as pessoas tentam fazer tudo para ajudar, aumentam camas numas tendas, vão tentando desmultiplicar os próprios horários de trabalho, há muita gente a trabalhar quase 24 sobre 24 horas”.
“As pessoas estão a fazer um esforço brutal e por isso é que este grito de alerta, relativamente a este hospital em concreto, tem que ser dado. Não é por acaso que a Ordem dos Médicos começou este périplo na saúde - que vai continuar - exatamente pelo Hospital de Setúbal”, disse.
“Tem sido um hospital que a própria comunicação social tinha esquecido. Desculpem dizer-vos isto, mas é importante que a comunicação social também se interesse por hospitais que estão em grande dificuldade e que precisam de ser ajudados, precisam da ajuda do governo”, defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos, que se manifestou convicto de que o Hospital de São Bernardo poderá ser um dos beneficiários da ajuda internacional disponibilizada por vários países europeus.
Comentários