Em conferência de imprensa na Assembleia da República, o deputado do BE José Soeiro detalhou que a proposta bloquista para uma comissão de inquérito parlamentar à gestão da Santa Casa estabelece o período temporal entre 2011 e 2024, uma vez que “há negócios que começaram antes da provedora Ana Jorge e do ex-provedor Edmundo Martinho”.

O bloquista deu como exemplo “o negócio das apostas hípicas”, ou seja, em corridas de cavalos, que “remonta a 2015”, altura em que era provedor da Santa Casa o antigo primeiro-ministro social-democrata Pedro Santana Lopes.

O BE quer ouvir “todos os provedores, todas as mesas, e outras pessoas envolvidas nestas decisões seja da tutela política seja da gestão operacional da Santa Casa desde 2011 até ao presente”.

Pedro Santana Lopes foi provedor da Santa Casa desde 2011 até 2017, Edmundo Martinho até 2023 e Ana Jorge até abril deste ano.

José Soeiro explicou que o grupo parlamentar decidiu avançar com uma comissão de inquérito porque as audições até agora realizadas “adensaram a necessidade de escrutínio sobre a situação da Santa Casa”.

Os bloquistas querem escrutinar “aspetos conjunturais” mas também “estruturais” que levaram ao desequilíbrio financeiro desta instituição.

Em causa estão negócios no Brasil “relacionados com a internacionalização dos jogos”, “investimentos duvidosos como aquele que vinha desde 2015, nas apostas hípicas”, “negócios como o do Hospital da Cruz Vermelha” ou ainda “investimentos bastante aventurosos e questionáveis como o investimento em NFT”, que são bens virtuais únicos, que podem ser desenhos, fotografias, ficheiros de som ou qualquer ficheiro digital exclusivo e colecionável.

Defendendo que a demissão da anterior provedora, Ana Jorge, foi uma decisão “iminentemente política”, o BE quer escrutinar também a “política de pessoal, de chefias, e salarial na Santa Casa”.

José Soeiro salientou, contudo, que “uma coisa são recrutamentos espúrios, colocar dentro da Santa Casa pessoal político ou multiplicar chefias que se chefiam a si próprias” e outra “totalmente diferente” é o facto de “o atual Governo estar a tentar utilizar os negócios errados e desequilíbrios financeiros para defender despedimentos”.

“Queremos fazer um escrutínio rigoroso a toda a política de recrutamento e de gestão de pessoal porque é preciso proteger os trabalhadores da tentação de um despedimento na Santa Casa”, considerou.

O BE quer ainda analisar o património da Santa Casa, realçando que a instituição “é uma das maiores proprietárias mobiliárias em Lisboa”.

“Preocupa-nos a ideia de que este contexto é o pretexto ideal para se alienarem em barda o património da Santa Casa”, afirmou.

José Soeiro citou a ministra do Nas palavras da ministra do Trabalho, Maria do Rosário Ramalho, que na posse do novo provedor, Paulo Duarte Sousa, a instituição “inicia um novo ciclo na sua liderança”, com uma gestão mais transparente.

O bloquista mostrou-se convicto de que “este novo ciclo de transparência na Santa Casa há de corresponder também em transparência na relação com o poder legislativo que fiscaliza o poder executivo que tutela a Santa Casa”.