José Ornelas chega agora ao fim do primeiro mandato de três anos, podendo ser reconduzido por igual período. Nas últimas semanas, porém, têm surgido notícias que dão conta da sua alegada indisponibilidade para continuar no cargo.
O desgaste provocado por três anos de mandato marcados pela pandemia de covid-19 e pela crise dos abusos sexuais a menores na Igreja estará na base de uma eventual não recandidatura de José Ornelas.
Também o facto de terem surgido notícias sobre o seu alegado encobrimento de casos de abuso, enquanto superior dos Dehonianos, estará a contribuir para a possível não continuação de José Ornelas como presidente da CEP.
Caso não seja eleito para novo mandato, ficará, no entanto, para a história que foi sob a sua presidência que a CEP decidiu criar a Comissão Independente que, ao longo de um ano, recolheu os testemunhos de alegadas vítimas de abuso sexual no seio da Igreja, no que foi encarado como um passo decisivo para o encarar de frente do problema.
Os nomes dos arcebispos de Braga (José Cordeiro) e de Évora (Francisco Senra Coelho), bem como o do bispo de Coimbra (Virgílio Antunes) têm sido apontados como possíveis candidatos, caso José Ornelas confirme indisponibilidade para continuar.
Além do presidente da CEP, serão eleitos também os restantes membros do Conselho Permanente e os presidentes das diferentes Comissões Episcopais.
Novidade é a possibilidade de, pela primeira vez, ser eleito para a função de secretário da CEP um leigo, após a revisão dos estatutos aprovados pela Santa Sé no dia 30 de março.
“É a primeira vez que isso acontece, que há essa possibilidade de eleição. Este é um aspeto relevante também para a vida da Conferência Episcopal”, disse o padre Manuel Barbosa, atual secretário da CEP, em declarações à agência Ecclesia.
Em destaque nos trabalhos desta reunião plenária do episcopado católico português vai estar, também, a constituição do organismo que substituirá a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, e que será coordenado pela psicóloga forense Rute Agulhas, que integra a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa.
Em 03 de março, os bispos portugueses, após uma reunião destinada a analisar o relatório da Comissão Independentes, anunciaram a disponibilidade para criar um “grupo específico” para ouvir as vítimas, que será “articulado com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis”, que é liderada pelo antigo procurador-geral da República José Souto Moura.
A Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram cautelarmente do ministério alguns padres.
Entretanto, na próxima quinta-feira, último dia da Assembleia Plenária da CEP, os bispos celebram a eucaristia pelas 11:00, na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, no contexto da jornada nacional de oração pelas vítimas de “abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”.
Este momento, de pedido de perdão público às vítimas, fora já anunciado pela CEP, em 03 de março.
Também a preparação da Jornada Mundial da Juventude, agendada para o início de agosto em Lisboa, com a presença do Papa, estará em cima da mesa de trabalhos dos bispos católicos portugueses na próxima semana, em Fátima, bem como o processo sinodal ou o centenário do Corpo Nacional de Escutas.
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