O presidente Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), Joaquim Leitão, entregou na quarta-feira a carta de demissão dirigida ao secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que, por sua vez, a remeteu para o primeiro-ministro, atendendo à saída, no mesmo dia, da ministra da tutela, Constança Urbano de Sousa, do executivo.
A demissão foi aceite por António Costa.
Em declarações hoje à agência Lusa, Fernando Curto explicou que perante os acontecimentos “não se esperava outra coisa” que não a demissão atendendo à situação “relativamente aos incêndios, às várias situações de desorganização” no teatro de operações.
Todas estas situações contribuíram para a demissão e abandono do cargo. As coisas não correram bem, houve falhas a todos os níveis, devidamente identificadas e, claro, é natural que o presidente, independentemente de algumas delas não terem sido da sua responsabilidade, peça demissão”, disse.
Questionado sobre se a demissão deveria ter acontecido há mais tempo, o presidente da ANBP frisou que “um general não deve ser substituído no meio da guerra”.
“Uma demissão de uma pessoa que é política, administrativa é fácil, a demissão de um responsável ao mais alto nível de uma situação operacional dos bombeiros, da proteção civil é diferente. Eu penso que no meio da guerra não se podem substituir generais. No meio da guerra mesmo que o general não funcione ou que as coisas não corram bem para o general, este tem de se manter até que a guerra acalme”, salientou.
No entender de Fernando Curto, seria pior para a estrutura se no meio de toda a turbulência das mortes, da má organização do socorro, que depois foi identificada em relatórios, tivesse havido um abandono do cargo.
Quanto à escolha para o próximo presidente da ANPC, Fernando Curto considera que este deve ser oficial das Forças Armadas.
“Continuo a achar que a ANPC deve ser comandada por um oficial das Forças Armadas no sentido em que a orgânica da proteção está montada nesse contexto, ou seja, há toda uma organização das forças de segurança e estas forças de segurança compõem a comissão nacional de proteção civil ao mais alto nível e terá que ser uma figura patente superior que possa supervisionar não só as forças armadas como também a estrutura nacional da proteção civil”, salientou.
O presidente da ANBP considerou também esta figura deve ter uma relação direta com todas as forças armadas, forças de segurança e bombeiros.
A demissão de Joaquim Leitão segue-se à saída da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa na quarta-feira, e do comandante nacional operacional da ANPC, Rui Esteves, em setembro, no pior ano de incêndios florestais da última década, que já deixaram mais de cem mortos e acima de 500 mil hectares de área ardida.
As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 43 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 mortos e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.
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