Organizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em Portugal e pelo Comité Popular de Luta em Portugal, formado para apoiar a candidatura de Lula da Silva na última campanha presidencial no Brasil, a concentração escolheu como palavra de ordem “sem anistia [grafia brasileira para amnistia]”, exigindo a condenação dos apoiantes do ex-Presidente Jair Bolsonaro que invadiram e vandalizaram Palácio da Alvorada, Congresso e Supremo Tribunal Federal, sedes dos três poderes brasileiros (executivo, legislativo e judiciário).
Ao microfone, uma das representantes das associações que se juntaram à iniciativa de “solidariedade com o povo brasileiro” deixou um apelo: “Nenhuma liberdade para os inimigos da liberdade.”
“É uma afronta, é uma ameaça, não só para a democracia no Brasil, mas para a democracia no mundo”, disse à Lusa Evonês Santos, militante do PT há 20 anos em Portugal, em nome da organização. “Não vamos continuar a ser pacíficos quanto a essas atitudes”, defendeu.
PCP e BE, Juventude Comunista Portuguesa, Movimento Democrático de Mulheres e Conselho Português para a Paz e a Cooperação, entre várias associações não-partidárias, apoiaram a concentração, juntando-se aos brasileiros que se sentem “fortemente ameaçados”.
Uma ativista recordou que “o Brasil amnistiou os torturadores da ditadura e hoje está a pagar por isso”, defendendo a “desbolsonarização do Estado”. E, reagindo ao argumento de que Lula da Silva venceu a eleição por poucos votos, sublinhou o feito de o ter conseguido “apesar de quatro anos de lavagem cerebral”.
Logo às primeiras palavras que se ouviram na praça do Rossio, registaram-se altercações verbais entre as pessoas concentradas e cidadãos brasileiros que passavam por ali e que gritaram contra Lula e a favor de Bolsonaro. “Fascistas, bolsotários, golpistas!”, reagiram os manifestantes.
A “tensão” entre apoiantes de Lula e Bolsonaro a viverem em Portugal “já existia”, estava “em águas calmas”, mas agora nota-se “um pouco mais” e “as pessoas sentem necessidade de se manifestar e posicionar”, descreveu Evonês Santos.
A democracia brasileira “sofreu um forte ataque”, virtual e físico, às mãos de “um grupo fortemente organizado, sublinhou a militante do PT, acusando esse grupo de se comportar como “uma espécie de seita” que “impõe a sua visão”, passando “por cima da liberdade e dos direitos humanos”.
Neste contexto, a concentração quis dar visibilidade à “necessidade de fortalecer a democracia, não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, explicou.
Alertando para “os indícios” de que a “ameaça” se irá “manter e continuar a se organizar”, a militante do PT notou que “felizmente” as autoridades brasileiras estão a “responder bem”.
Os últimos desenvolvimentos dão conta da detenção, pela polícia federal brasileira, de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro e também ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (onde se localiza a capital, Brasília), por alegadamente não ter impedido os ataques perpetrados por milhares de apoiantes do ex-Presidente.
A polícia brasileira identificou, interrogou e prendeu mais de mil suspeitos de envolvimento na invasão e vandalização das sedes dos três poderes em Brasília.
Ainda assim, realçou Evonês Santos, a organização que levou à invasão de domingo “não é espontânea e já está com a raiz bastante crescida”, daí a necessidade de mobilização em prol da democracia.
Já na quarta-feira, também em Lisboa, mais de uma centena de pessoas se manifestaram em apoio à democracia brasileira, dessa vez numa iniciativa organizada pelo Coletivo Andorinha, um dos movimentos ativistas de brasileiros mais representativo em Portugal.
Na altura, foi lançado o Manifesto em Apoio da Democracia Brasileira, assinado por pelo menos 47 organizações portuguesas (entre as quais o Bloco de Esquerda, o Partido Ecologista Os Verdes, o SOS Racismo, a Solidariedade Imigrante) e mais de 400 pessoas.
Comentários