“O sítio arqueológico Abrigo do Lagar Velho, localizado no Vale do Lapedo, em Santa Eufémia, foi recentemente alvo de ações de vandalismo”, afirma em comunicado a Câmara Municipal, indicando que a situação foi também relatada à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e à Direção Regional de Cultura do Centro.
Os danos, segundo a nota, “foram infligidos sobre o denominado Testemunho Pendurado, reentrância localizada na parede de fundo do abrigo”.
A Câmara Municipal “repudia de forma veemente este inqualificável ato de vandalismo, que atinge um achado de extrema importância no concelho de Leiria e de relevância internacional”.
Durante uma visita guiada ao local, no dia 6, técnicos do município “identificaram raspagens e extrações indevidas, sendo notória a remoção de cerca de 10 centímetros de espessura do contexto arqueológico e a existência de inúmeros materiais arqueológicos espalhados na base pétrea que sustenta o Testemunho Pendurado e na cota de solo atual do sítio”.
A investigação no Abrigo do Lagar Velho começou em 1998, depois de terem sido descobertos fragmentos ósseos humanos de uma criança com cerca de cinco anos.
O seu enterramento, realizado há cerca de 29 mil anos, “envolve a presença de uma mortalha tingida de ocre, elementos de adorno feitos com conchas e dentes de veado e vestígios de carvões de pinheiro, o que deixa antever um cariz marcadamente ritual”.
“O estudo científico deste esqueleto veio revelar a presença de um conjunto de características anatómicas compósitas, correspondentes a homo neanderthalensis e a homo sapiens, o que sugeriu a então controversa hipótese de miscigenação entre estas populações”, recorda a autarquia.
A sequência sedimentar identificada no Abrigo do Lagar Velho integra ocupações do Paleolítico Superior, com cronologias entre cerca de 30 mil a 20 mil anos.
O Testemunho Pendurado, com cerca de 60 cm de espessura, preenche uma fissura estreita e alongada, na parede de fundo do abrigo cortada pela terraplanagem, situada 1,2 a três metros acima da superfície artificial do terreno.
Os depósitos vieram a revelar contextos arqueológicos datados entre 24 mil e 26 mil anos.
Desde 2018, com apoio do município de Leiria, têm sido realizadas campanhas anuais de trabalhos arqueológicos no Abrigo do Lagar Velho, no âmbito do Projeto de Investigação “O Abrigo do Lagar Velho e os primeiros humanos do extremo ocidental europeu”, desenvolvido pela Universidade de Lisboa e pela DGPC.
Em 2013 o Abrigo do Lagar Velho foi classificado como Monumento Nacional e o Vale do Lapedo como Zona Especial de Proteção.
Em 2021, o esqueleto do menino do Lapedo e artefactos arqueológicos associados foram classificados como bens de interesse nacional, com a designação de “tesouro nacional”, achado que constitui “um dos elementos predominantes” da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027.
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