“Herdamos quase uma vertigem. A cidade, de vez em quando, falava do Museu da Cidade, empenhava-se numa área e num local específico e depois entrava numa certa tragédia. O caso mais paradigmático foi o museu do Siza, pensado neste âmbito, mas que nunca chegou a ser feito, o que gerou um sentimento de perda. Mas a cidade não perdeu as suas coleções e tem um património riquíssimo. É necessária uma coerência”, referiu o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.
O Museu da Cidade é um conceito lançado em 1989 pela então vereadora da autarquia do Porto Manuela Melo.
Em novembro de 1993, a Lusa contava que o projeto tinha sido aprovado por unanimidade em reunião camarária, na qual foi definido o objetivo de criar um museu para “preservar a memória do Porto”.
Hoje, numa conferência de imprensa realizada na Biblioteca Almeida Garrett, nos Jardins do Palácio de Cristal, Rui Moreira e o diretor artístico do Museu da Cidade, Nuno Faria, relançaram o projeto, utilizando a metáfora da “linha de metro”, de uma rede com várias estações, ao longo das quais se estenderão percursos ligados a cinco eixos: sonoro, natureza, material, líquido e romantismo.
Os 16 espaços da cidade do Porto, alguns deles agora renomeados ou repensados, por onde se estenderá o Museu da Cidade são o Reservatório de Água da Pasteleira, as casas Marta Ortigão Sampaio, Tait, dos 24, Guerra Junqueiro e do Infante, as extensões do Romantismo, do Douro, da Indústria e da Natureza, esta última através da Quinta de Bonjóia, o Banco de Materiais, localizado no Palacete Viscondes de Balsemão, o museu subterrâneo Rio de Vila, o Espaço Entre Quintas e o Arqueossítio, bem como a Biblioteca Sonora ou o Ateliê António Carneiro.
Nuno Faria falou de “um verdadeiro começo”, de “um ponto zero” para garantir que, após este relançamento, o Museu da Cidade do Porto será “uma coisa única com múltiplas possíveis combinações”.
Sem precisarem algum dia em que todas as estruturas estarão abertas ao mesmo tempo, uma vez que muitas delas ainda serão alvo de intervenções, o diretor artístico e o presidente da Câmara apontaram que “80% dos espaços estão já abertos ao público” e que está em análise a criação de um passe único, uma espécie de ‘Andante’ que ligará toda a estrutura de forma material.
“O Museu da Cidade já existe como rede. O que se procura agora é uma nova leitura baseada na multiplicidade e complementaridade. Vamos refundar o programa. Queremos que os espaços dialoguem entre eles. Não quero parecer arrogante, mas o que queremos construir é o museu do futuro. Pensar o museu no mundo contemporâneo”, disse Nuno Faria.
A propósito dos espaços e de datas, foi hoje revelado que “a Biblioteca Sonora será o coração do Museu da Cidade” e que o Museu do Vinho do Porto reabrirá a 20 de março “renovado, sendo que de seis em seis meses será lançado um novo olhar sobre a região do Douro, uma abordagem ligada à sazonalidade do tema”.
Já o Ateliê António Carneiro está a ser alvo de uma intervenção para o tornar “mais ateliê e menos casa” e lhe retirar alguns elementos que foram introduzidos fora da sua traça original.
Quanto à Quinta de Bonjóia, em Campanhã, espaço que será o epicentro do roteiro dedicado à natureza do Museu da Cidade do Porto, será alvo de uma intervenção, porque lhe foram detetadas “várias patologias”, nomeadamente ao nível de salitre, estimando-se que seja o último espaço a abrir. Até lá, informaram, as atividades desenvolver-se-ão no exterior da quinta.
Quanto aos eixos, Nuno Faria revelou que o “Sonoro” incluirá visitas guiadas, percursos da cidade e um âmbito mais criativo.
“O eixo ‘Natureza’ interessa-nos como uma espécie de balão de ensaio para pensarmos a biodiversidade e aproveitarmos os espaços verdes da cidade”, acrescentou o diretor artístico.
O CACE Cultural do Porto, no Freixo, acolherá o eixo “Material”, materializando-se na extensão da indústria, disse Nuno Faria.
Quanto ao eixo “Líquido”, de acordo com o responsável, este fará “uma leitura da cidade através dos lugares das águas, desde o Reservatório ao Douro, até à Quinta de Bonjóia", enquanto o eixo "Romantismo” é visto como “óbvio, porque a cidade do Porto é reconhecida pela sua ligação ao romantismo”.
“Todos estes eixos serão consubstanciados por plataformas públicas de reflexão para as quais convidamos coordenadores fora das equipas que nos ajudarão a pensar que museu se quer para a cidade através de reuniões internas e encontros abertos à comunidade”, acrescentou Nuno Faria.
No dossiê distribuído à imprensa é descrito que, além dos cinco mapas alusivos aos cinco eixos apresentados hoje, este projeto também originará uma agenda, cuja divulgação será bimestral, progredindo posteriormente para uma periodicidade quadrimestral.
Somar-se-á uma coleção de 30 fascículos, cadernos que terão como objetivo criar uma “relação forte entre o universo de texto e o universo de imagens, com cuidado na materialidade”.
Rui Moreira também destacou o programa educativo e, questionado sobre orçamento, disse não ser possível avançar com um valor final devido às obras que estão em curso ou vão avançar, somando-se 600 mil euros para programação.
Exposições sobre natureza, Douro e Revolução Liberal
A exposição “Por trás das árvores há um outro mundo”, de Ilda David, a inaugurar na sexta-feira na Casa Guerra Junqueiro, é uma das primeiras atividades do Museu da Cidade do Porto, projeto apresentado hoje pela Câmara local.
Esta é a primeira de um conjunto de seis exposições integradas no programa Gabinete de Desenho, lê-se no dossiê de imprensa distribuído hoje aos jornalistas na conferência de imprensa que marcou o relançamento do Museu da Cidade do Porto, projeto que se materializa numa rede de 16 infraestruturas espalhadas pelo concelho.
A mostra de Ilda David, artista que cruza a imagem, a palavra, a literatura e a pintura, estará patente até 29 de março na Casa Guerra Junqueiro.
“A exposição reúne um amplo conjunto de desenhos e algumas gravuras, entre obras recentes e mais recuadas no tempo, cujo denominador comum é a tematização da irredutível diversidade da linguagem da natureza”, refere a descrição da exposição.
Além desta mostra, está também agendada a “1820. Revolução Liberal do Porto”, uma exposição que integra o programa de comemorações dos 200 anos da Revolução Liberal que eclodiu no Porto a 24 de agosto de 1820, da autoria de José Manuel Lopes Cordeiro, que é inaugurada a 20 de fevereiro e fica patente até 06 de setembro na Casa do Infante.
“Livros são árvores, bibliotecas são florestas”, que vai estar patente de 28 de fevereiro a 31 de maio na Biblioteca Sonora, é outra das atividades integradas no novo roteiro lançado pela autarquia no âmbito do projeto Museu da Cidade.
Soma-se, entre outras atividades, a exposição “Douro Terra e Atmosfera”, que vai marcar a Extensão Douro, anteriormente conhecida como Museu do Vinho do Porto, de 21 de março a 06 de setembro.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, indicou hoje que “a maior parte dos espaços” que compõem o novo Museu da Cidade “estão já abertos ao público”, existindo ainda outros que “estão a ser criados e vão ser abertos e outros abertos e que vão ser reformulados”.
Rui Moreira adiantou que o Reservatório da Pasteleira vai abrir no final do ano.
“Estamos a preparar a instalação dos equipamentos. Abriu para uma exposição, já foi dado a descobrir e abre de novo, com novo equipamento, novo pensamento e o seu conjunto de peças arqueológicas”, referiu Rui Moreira.
Já o Museu do Romântico, disse o autarca, “está aberto ao público, mas no final deste ano fecha e é reformulado em termos de conteúdos e programa”.
Foi também anunciado que o Museu da Cidade vai, nesta na fase de arranque, rodar à volta de cinco eixos e de cinco mapas: sonoro, natureza, material, líquido e romantismo.
Sobre o eixo “Material”, Rui Moreira disse que este terá incidência no mundo industrial e que esse terá epicentro no CACE Cultural do Porto, na zona do Freixo.
“Estamos a preparar um novo programa a partir das coleções industriais. Isto exige uma explicação porque se calhar consideravam expectável que o Museu da indústria do Porto surgisse no matadouro municipal. Não podemos ficar à espera do que vai acontecer. O processo [do Matadouro] continua no Tribunal de Contas e por lá continuará”, disse o presidente da Câmara.
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