A garrafa foi lançada ao mar a partir de um porta-contentores, o MAERSK SENTOSA, a 16 de julho de 2017, perto das ilhas Bermudas. A história foi divulgada no dia de ontem, 11 de março, pelo responsável da página Torres Vedras Antiga no Facebook.
"Foi numa corrida nas praias de Santa Cruz que encontrei esta garrafa. A tempestade e a forte ondulação dos últimos dias mandaram para as praias muito lixo. É interessante pensar que esta mensagem ficou uns sete anos no mar e só chegou a terra agora", começa por dizer André ao SAPO24, frisando que este facto mostra "que muito do lixo lançado ao mar, vindo do outro lado do oceano, demora muito tempo até chegar a terra".
Para André, esta foi uma descoberta inusitada. "Já encontrei muitas coisas, mas uma mensagem numa garrafa é a primeira vez".
No texto vinha um apelo: que quem encontrasse a garrafa entrasse em contacto através de um email. André assim fez — e a resposta não tardou a surgir, por parte de Brian Mossman, um "capitão do navio porta-contentores".
"Encontrei esta garrafa ontem de manhã e contactei-o logo, à tarde tive resposta", recordou.
E eis as palavras com que respondeu a André, em tradução livre:
"Muito obrigado por me enviar um email. A mensagem ficou à deriva durante sete anos no oceano! Uau.
Fui capitão de navio durante 38 anos e coloquei várias mensagens em garrafas no oceano, mas é sempre uma surpresa agradável saber de alguém que encontrou uma.
Este foi o meu último navio, agora estou aposentado e moro em New Hampshire, nos Estados Unidos. Estava a viajar da China para os EUA, parámos na Cidade do Cabo e comprei várias caixas de um bom vinho. A cada noite eu atirava uma mensagem. Esta chegou até si sete anos depois!
Espero que esteja bem e que faça bons passeios na praia em Portugal, um país lindo!"
A mensagem encontrada por André, perfeitamente preservada, assinada e com o carimbo do navio, conta também a percurso da embarcação, que fazia transporte de carga da China para Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos. Pelo caminho ainda fez paragens na Coreia, Malásia, Singapura, África do Sul, Congo e Angola.
Brian Mossman conta ao SAPO24 que ao longo dos anos atirou várias garrafas ao mar. "Deixei mensagens em garrafas durante muito tempo, provavelmente coloquei pelo menos 100 nos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico".
"A mensagem que o André encontrou fazia parte de um grupo de 12 que foram enviadas durante a travessia do Atlântico, da África Ocidental para a costa leste dos EUA. As 12 foram lançadas em intervalos ao longo da linha do caminho, de modo a apanharem correntes diferentes. É realmente surpreendente que tenha andado à deriva durante sete anos até chegar a André", reflete.
Mas esta não foi a primeira resposta ao capitão. "Ao longo dos anos, recebi respostas de cinco pessoas em África, na Índia e na Europa. Provavelmente ainda há muitas garrafas à deriva algures. Costumava receber respostas por correio há anos, mas agora com a Internet e o correio eletrónico é muito diferente", diz Brian.
"É sempre muito surpreendente para mim receber uma resposta de uma pessoa que encontra uma destas mensagens. É como um encontro casual, com uma possibilidade tão pequena de sucesso. O contacto com outra pessoa é realmente o objetivo que me leva a fazer a experiência. Adivinhar para onde as correntes oceânicas podem levar a mensagem faz parte do processo. Mas ter um breve contacto com alguém, por acaso, é realmente interessante. Deve ser divertido ser a pessoa que encontra uma destas! Todos nós sabemos o que é uma mensagem numa garrafa, mas quem é que consegue encontrar uma? É uma surpresa tão rara", acrescenta.
"Faz-me sorrir pensar que estas mensagens ainda andam por aí e que talvez possa ter notícias de alguém", conclui Brian Mossman. E, mais uma vez, o capitão pode agora ter a certeza de que a garrafa que atirou não vai ser esquecida. André assegura-se disso, uma vez que pretende guardá-la consigo.
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