“Gostaria muito que todos nós, como sociedade, além das fronteiras definidas da crença, tenhamos uma aplicação muito especial em resolver este problema [a falta de uma casa digna], para que de Natal a Natal sejam menos aqueles que têm de nascer numa manjedoira, por não terem lugar numa hospedaria”, afirmou Manuel Clemente, na tradicional mensagem transmitida pela RTP, aludindo ao episódio do nascimento de Jesus que se celebra no domingo.
Segundo a tradição cristã, Maria e José procuraram lugar numa hospedaria que não os acolheu, tendo Jesus nascido numa manjedoira.
“Quantos têm um tecto, uma casa que verdadeiramente os abrigue, uma casa que possam sentir como sua”, questionou Manuel Clemente, que preside à Conferência Episcopal Portuguesa.
“Façamos desta preocupação de arranjar casa digna para todos os habitantes do nosso território, começando pelos locais onde estamos mais proximamente, façamos desta preocupação um exercício solidário à luz do Natal, porque este é um ponto no qual nós nos devemos e podemos encontrar cada vez mais: dar a todos, proporcionar a cada um uma habitação condigna, para que mais ninguém tenha que nascer na manjedoira”, instigou o prelado.
“Se o Natal nos traz esta lição da maneira, do modo, de Deus acontecer no mundo, também traz para cada um de nós uma exigência acrescida de solidariedade concreta”, afirmou Manuel Clemente.
Na sua tradicional mensagem, o cardeal-patriarca apelou para não ninguém se afastar da realidade e que se deve ver “Deus onde ele quer estar”.
“Encontremos Jesus Cristo na vida de todos e de cada um, sobretudo aquela vida que precisa de mais atenção, que precisa ser prioritariamente acolhida ou restabelecida”, disse.
Na mensagem, o cardeal-patriarca referiu-se ao nascimento de Jesus Cristo como “o modo divino de acontecer” que, “é muito diferente das nossas expetativas imediatas ou das nossas projeções futuras”.
O prelado afirmou que há 2000 anos “aconteceu o nascimento do próprio Deus neste mundo” de uma “maneira tão original e desafiadora”, que é como “Deus aparece na vida das pessoas, aparece como quem aí está, e como quem aparece para ser reparado, para que, reparando nele, reparemos nos outros, com a sua simplicidade, com a sua vida comum e com as necessidades que apresentam”.
“Nós temos que olhar para esta maneira de Deus acontecer, como a maneira de nós próprios acontecermos uns para os outros, também divinamente, também em Deus, também totalmente, não com imposição, mas com presença, não com requisição, mas com serviço”, disse.
O cardeal-patriarca desafiou ainda para cada um olhar em sua volta, e apelou para olharmos para “aquelas pessoas que, por uma razão ou outra, habitualmente esquecemos, ou demasiadamente esquecemos, ou que precisam agora nesta noite, e amanhã e todos os dias, numa atenção prioritária que as apoie, e aí temos um verdadeiro culto, no sentido cristão da palavra, porque aí encontramos o próprio Deus”, disse.
Manuel Clemente preside ainda hoje às 24:00 à Missa do Galo, na Sé, em Lisboa, e no domingo, dia de Natal, às 11:30, faz a sua homília de Natal, neste mesmo templo.
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