“Pedimos ajuda à Embaixada de Portugal, passado um mês de cá estarmos, e a resposta foi inexistente”, disse à Lusa Cristiana Paiva, através de contacto telefónico.
“[Disseram] que não era responsabilidade da embaixada nós estarmos cá, que a situação epidemiológica de São Tomé está completamente descontrolada, que estávamos basicamente por nossa responsabilidade, que isto não é uma colónia portuguesa, e que eles pouco ou nada podem fazer”, disse a empresária.
Depois, acrescentou Cristiana Paiva, as comunicações entre o casal e a embaixada “foram um pouco desagradáveis durante um ou dois dias, deseducadas de ambas as partes em determinada altura, e desapareceram”.
Cristiana Paiva e Tiago Silva têm uma empresa em Angola e deslocaram-se de Lisboa a São Tomé para “reuniões comerciais com empresas privadas”, no que foi “uma semana de trabalho normal”. Quando se preparavam para regressar, fizeram o teste obrigatório à covid-19, prévio à viagem, e o homem acusou positivo. Cristiana Paiva acusou negativo em todos os testes feitos até agora.
“A partir daí, iniciámos o processo normal nestes casos, que é fazer a quarentena, e, passados dez dias fomos, por nossa iniciativa, fazer um teste a uma clínica para garantir que já estaríamos negativos, antes de voltar a tentar a saída. E esses testes deram negativo”, explicou Cristiana.
O casal reiniciou então o processo de saída, mas recebeu um segundo teste oficial positivo, apesar dos testes que tinham feito por iniciativa própria terem dado negativo.
“Mesmo assim, mantivemos alguma tranquilidade, até chegarmos às quatro semanas e começarmos a perceber que todas as semanas fazíamos a testagem, que aqui só é possível à quarta-feira, para viajar no sábado com a TAP, e dava sempre positivo”, explica a empresária.
Foi nessa altura que o casal pediu ajuda à embaixada de Portugal, mas “a resposta foi inexistente”. “Zero!”, diz Cristiana Paiva.
“Foi sempre este o discurso: ‘não é uma colónia portuguesa, o estado é soberano, nós pouco ou nada podemos fazer, não vieram pela nossa responsabilidade’. Ainda tiveram o desplante de sugerir que mudássemos de hotel, porque estávamos a ter custos muito elevados”, acrescenta.
O interlocutor na embaixada terá sido sempre um responsável da secção consular, segundo Cristiana Paiva. “Nunca falámos com o embaixador ou cônsul, nada”, afirmou.
“O que sabemos é que as nossas forças armadas, mais uma vez de forma informal, falaram com o adido militar e que este deverá ter falado com o embaixador. E foram eles [forças armadas] que nos disseram que eles [embaixada] já sabem, e que deveríamos ser contactados esta semana [passada]. Mas nada”, explicou ainda.
No final da semana passada, o casal cruzou-se de forma fortuita com uma equipe da Força Aérea Portuguesa em São Tomé, que ofereceu ajuda e “deu imensa esperança”, ainda que os empresários não tivessem conseguido o regresso, como chegaram a perspetivar na passada sexta-feira.
Uma médica de serviço com a equipe militar portuguesa analisou o processo, consultou o casal e “passou um atestado de cura — que é um procedimento comum em outros países, uma vez que o teste PCR pode dar positivo até aos seis meses após a infeção, segundo a médica, ainda que não exista a carga viral”, explicou Cristina Paiva.
“Na sexta-feira, as forças armadas portuguesas estiveram connosco no aeroporto a tentar que nos deixassem embarcar com a carta de cura, o SEF deixava-nos sair, mas não conseguimos o embarque”, lamentou.
Em desespero com a situação, e não obstante ter optado pela discrição até ao final da semana passada, o casal acabou por publicar nas redes sociais o que estava a viver há seis semanas e, “desde então”, recebeu “dezenas de chamadas informais de pessoas a disponibilizarem-se para fazer um contacto com a OMS, com os ministérios…”.
“Um ministro são-tomense disse-nos que o nosso problema estava identificado. Mas isto tudo sem um único telefonema da embaixada, até que há pouco nos enviou um email, insultuoso até, a dizer que eramos mentirosos e que estão a acompanhar…”, relatou.
“Isto porque [uma estação de televisão portuguesa] nos mandou um email do Ministério [dos Negócios Estrangeiros] a dizer que a embaixada declarou que está em contacto permanente connosco. E nós respondemos a dizer que isso não é verdade, que não há um único contacto, não há um telefonema, nunca nos perguntaram se estávamos bem”, concluiu.
A Lusa contactou a Embaixada de Portugal em São Tomé, que a remeteu para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujos serviços não reagiram em tempo útil, mas anunciaram uma resposta “com a maior brevidade possível”.
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