"Nem gueixa, nem criada", "Nem deusa, nem boneca" ou "Processa-me Neto de Moura" - eram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes e faixas espalhadas pela Praça dos Poveiros uns no chão e outros empenhados ao alto.

Já Helena Ferreira escolheu a frase: "Nós não somos miseravelmente enxovalhadas, somos espancadas e mortas". E, à agência Lusa, explicou porquê, apontando o dedo a uma justiça que diz ser "machista".

"Sentimo-nos terrivelmente tristes porque este ano já morreram 15 mulheres, três no último dia. O que está a acontecer é que estamos a ser mortas. Devíamos estar todas na rua. Os números que temos este ano equiparam-se a um Brasil que tem uma taxa de mortalidade de mulheres terrível. O mundo feminista não é só para as mulheres, é para a sociedade em geral", sublinhou.

Ao lado - e enquanto se ouvia com a cadência de um bombo e de pandeiretas, bem como de gaitas de foles, "A nossa luta é todo o dia. Somos mulheres e não mercadoria" - Leilane Menezes, brasileira em Portugal há um par de meses, também explicava o porquê de ter decidido sair à rua em dia de greve feminista.

"Temos de mostrar a força das mulheres, a força de mudança, a força de transformação da sociedade. Não ficamos caladas. Não fomos criadas para aceitar o abuso e a cultura machista. Queremos que isso mude e vamos lutar com as próprias mãos para que isso aconteça", referiu à Lusa.

A concentração nos Poveiros juntou várias associações, desde grupos ligados ao movimento feminista a instituições que lutam contra a violência doméstica.

Na capa de um folheto entregue por membros da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, associação ligada aos direitos das mulheres criada em 1976, lê-se "Se as mulheres param, o mundo para". Já no interior leem-se reivindicações.

"Queremos viver sem violência e acabar com os assassinatos de mulheres. Queremos uma justiça não sexista e misógina que pare de atuar constantemente em defesa e desculpabilização dos agressores e na culpabilização das mulheres. Reclamamos espaços livres de assédio quer seja no trabalho, no espaço público ou dentro das nossas próprias casas", são algumas das mensagens.

Patrícia Martins, da Coletiva, plataforma criada em 2016 com o objetivo de juntar ativistas feministas, descreveu à Lusa como surgiu a ideia de fazer uma concentração no Porto no Dia Internacional da Mulher, lembrando que esta cidade acolheu há um ano um encontro de mulheres que aconteceu precisamente quando estava a decorrer em Espanha uma greve feminista.

"Foi tão abrangente e um momento histórico para o movimento feminista e sindical em Espanha que nós votamos o lançamento da greve feminista em Portugal. Desde o referendo do aborto não tínhamos uma mobilização em Portugal tão ampla em prol dos direitos das mulheres. Sabemos que as várias atividades ao longo do dia estão a correr bem. A greve feminista não se resume às manifestações. Esta greve feminista, mas também social, uma greve ao trabalho, ao consumo e uma greve estudantil", enumerou.

Ao mesmo tempo ouve-se por toda a praça: "Mexeu com uma mexeu com todas". E surgem mais folhetos, troca de pins e são colocadas mais faixas no chão ou junto às paredes.

O Movimento Rede-8-de-Março lança perguntas como "E se hoje não lavar a loiça? E se hoje não fizer o jantar?" e faz um apelo: "Entre marido e mulher é para meter o garfo, a colher e o faqueiro todo".

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