Durante a sua audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, Filipe Pinhal contou que, numa conversa que teve com o empresário também conhecido como Joe Berardo, lhe perguntou porque é que se já tinha "3,88%, uma posição qualificada, queria subir para 7%", e por que motivo iria "investir 400 milhões de euros".
"Eu ainda estou para saber como é que aquele homem me enfeitiçou, como é que aquele homem me deu a volta, como é que eu me meti nesta de ir comprar financiado desta maneira", terá respondido José Berardo, de acordo com Filipe Pinhal.
Para o ex-administrador do BCP a pessoa mencionada por Berardo "só podia ser ou Paulo Teixeira Pinto [ex-presidente do BCP], ou o senhor José Sócrates", sendo que para Filipe Pinhal "a palavra de Paulo Teixeira Pinto teria pouco peso" para José Berardo, ao passo que "a palavra do senhor primeiro-ministro valeria mais".
José Berardo referia-se à concessão de crédito da CGD às sociedades ligadas a si para adquirir ações no BCP, cuja garantia eram as próprias ações, que depois desvalorizaram e geraram grandes perdas para o banco público.
De acordo com a interpretação de Filipe Pinhal, a alegada influência de José Sócrates sobre Berardo estaria relacionada com a "guarda da coleção [de arte, no Centro Cultural de Belém] com despesas pagas pelo Estado".
Mais tarde, Filipe Pinhal disse também que era "indesmentível que o Governo [...] tinha uma grande influência quer na CGD quer no Banco Espírito Santo", não se referindo exclusivamente a José Sócrates, e relembrou que "se o Governo tivesse possibilidade de exercer influência no BCP controlava à volta de 60% do mercado de crédito".
O ex-administrador do BCP referiu ainda "o namoro que o engenheiro José Sócrates fazia nesse momento a Angola", relacionando-o com um aumento de capital da Sonangol.
"No dia 01 de junho de 2007 a Sonangol anunciou a tomada de posição de 2% no capital do BCP e anunciou a sua intenção de fazer subir essa posição, como veio a acontecer", lembrou Filipe Pinhal, acrescentando que a petrolífera angolana "fez isso depois de se aconselhar com o senhor José Sócrates".
"Palavras do senhor Manuel Vicente e Carlos Silva na minha presença e de outras pessoas", garantiu Filipe Pinhal, que revelou que os responsáveis angolanos "tiveram uma entrevista com Vítor Constâncio" para abordar a operação.
Mais tarde, o ex-administrador do BCP disse ainda que não se deveria pensar que "a Sonangol vinha desencadear uma tempestade em Portugal sem autorização do primeiro-ministro".
Filipe Pinhal disse ainda que na qualidade de administrador do BCP não se "sentava com quem desenhava a estratégia", que estaria "a ser desenhada noutro lado".
O ex-administrador do BCP sublinhou ainda que numa reunião de 21 de dezembro de 2007, "o senhor Vítor Constâncio convoca Carlos Santos Ferreira [então presidente da CGD] e Fernando Ulrich [então presidente do BPI]" para "decidir um assunto sobre um concorrente", nomeadamente a composição da administração.
Filipe Pinhal referiu que a marcação para dia 21 de dezembro, antes das férias de Natal, não foi feita "por acaso", e que ficou surpreendido por Santos Ferreira e Ulrich "não se sentirem inibidos" em participar na reunião.
O ex-administrador do BCP classificou ainda Vítor Constâncio, Fernando Teixeira dos Santos [então ministro das Finanças] e José Sócrates de "triunvirato que deitou a bênção" sobre as operações que envolveram o BCP.
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