Os 20 centros Ciência Viva do país são os pontos de referência de um guia que assinala outras atrações turísticas, alojamento e hotelaria, com descontos para quem queira conhecer o país partindo de disciplinas científicas como a biologia, a geologia ou a astronomia.
Desde 2010 no Lousal, o centro instalado no complexo da antiga mina de pirites, fechada em 1988, vive da história da atividade mineira e parte daí para dar aos visitantes experiências no domínio da química, geologia, física e ambiente.
Pode ainda ver-se a lagoa de águas ácidas que é drenada e purificada através de um sistema de piscinas em que são usadas plantas como os líquenes para extrair os metais pesados e uma galeria escavada na encosta onde antes se guardavam milhares de quilos de dinamite.
“Se não fosse isto, tínhamos aqui nada, zero”, disse à agência Lusa o mineiro José Pacheco, que assistiu em 1988 ao último dia de laboração da mina que durante décadas sustentou as centenas de famílias do Lousal.
Recordou que foi “muito triste”, sobretudo “numa zona tão carenciada de trabalho”, perderem-se de uma vez cerca de 600 postos de trabalho.
A explosão da atividade mineira deu-se em 1936, quando começou a ser explorada pela empresa belga SAPEC, e durante cinquenta anos saíram dos poços da mina, com cerca de 500 metros de profundidade, pirites das quais se extraía enxofre usado para produzir ácido sulfúrico e adubos.
A generalização da extração em minas de enxofre e a entrada da China no mercado fizeram com que o processo deixasse de ser rentável, por isso a laboração no Lousal parou, com o fim anunciado em 1987.
Junto ao relógio que na central elétrica do museu mineiro está para sempre parado nas 15:30, hora a que a última máquina deixou de funcionar, José Pacheco assinala que o centro é “uma fonte de postos de trabalho e uma mais-valia” para a terra.
Na mina trabalhava-se antes dos 18 anos nas oficinas, à superfície, mas aos 18 o destino era o poço, em ambientes que chegam aos 50 graus centígrados.
“Crescemos todos à força”, afirmou, lembrando que com o fim da exploração de pirites, a terra ficou sem vida e o caminho foi arranjar emprego em outros lados. Os que ficaram e eram velhos demais para mudar “morreram de tristeza”, disse.
A luz, água e habitação eram fornecidas pela mina mas “os salários eram miseráveis”. Para José Pacheco, o fim da mineração no Lousal acabou por ser uma oportunidade de ir ganhar mais em Neves Corvo, de onde se reformará daqui a dois meses.
Hoje, “é uma alegria” olhar para “os autocarros cheios de pessoal” e as excursões escolares que passam pelo centro e descobrem, visitando o museu e a galeria que está aberta para visitas, como trabalharam duas ou três gerações de alentejanos, incluindo o pai e o avô de José Pacheco.
Aberto em 2010, o museu acabou por revitalizar uma povoação que no pico da atividade mineira chegou a ter quase dois mil habitantes, mas que hoje em dia tem cerca de 700.
Como nos outros centros Ciência Viva do país, os circuitos recomendam outros pontos de interesse em redor, que no caso do Lousal são a experimentação agrícola na herdade Aberta Nova, o Museu da Ruralidade, o lagar de azeite Oliveira da Serra ou a praia da Galé.
A ideia, disse à Lusa a diretora da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Rosalia Vargas é “conhecer melhor Portugal de um ponto de vista cultural, social, económico ou patrimonial”.
Com um cartão que se compra por 50 euros, um guia e uma aplicação para telemóvel criada pela empresa Vodafone, há mais de 200 etapas nos circuitos, com entrada gratuita em todos os centros e descontos em restaurantes, hotéis e outros parceiros de uma lista com mais de cem serviços.
A secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Fernanda Rollo, disse à Lusa que o turismo científico é uma área a desenvolver, indicando que “já há pessoas a fazê-lo embora sem o designar dessa maneira”.
“É importante que as pessoas não olhem para o conhecimento e a ciência como uma coisa distante”, e que a sociedade “tome consciência de que lhe pertencem”, afirmou.
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