As equipas de limpeza da Câmara Municipal de Lisboa efetuaram uma limpeza na Avenida Almirante Reis que teve como objetivo, além da higiene urbana, a limpeza dos espaços onde habitam vários cidadãos em situação de sem-abrigo.

Nas redes sociais foram rapidamente partilhados inúmeros vídeos sobre esta ação, acusava-se a autarquia de efetuar uma “limpeza da cidade”, retirando os sem-abrigo dos espaços onde vivem e deitando fora as tendas onde habitam. Sabe-se inclusivamente, segundo avançou o jornal Público, que o Bloco de Esquerda e o PAN questionaram o presidente da autarquia, Carlos Moedas, sobre esta ação e se estaria relacionada com a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Questionada pelo SAPO24, a vereadora da Câmara de Lisboa, Sofia Athayde, responsável pelo acompanhamento da execução da Equipa de Projeto para a Implementação e Monitorização do Plano Municipal para as Pessoas em situação de Sem-Abrigo, acentuou a necessidade de "repor a verdade" por parte da Câmara destacando que estas ações do executivo se tratam de “situações normais".

"O que aconteceu hoje na Avenida Almirante Reis, acontece em diariamente em outros locais vulneráveis da cidade e está relacionado com uma intervenção municipal de apoio à saúde pública que é feita e levada a cabo por um conjunto de várias ações consertadas entre os vários serviços municipais", refere a responsável.

Acrescenta ainda, que este tipo de ações vão continuar a acontecer no futuro, e que nada têm a ver com eventos relacionados com a Jornada Mundial da Juventude sendo esta "uma confusão que fizeram de forma errada".

Também em entrevista ao SAPO24, Américo Nave, Diretor Executivo da Crescer, uma Associação que trabalha com a inclusão de pessoas em situação de vulnerabilidade, esclareceu que "estas ações acontecem há mais de 15 anos na cidade. São ações programadas e o objetivo é a limpeza da rua".

Sublinhou, ainda, que "normalmente existem inclusivamente conversas entre a Câmara, as instituições e as pessoas para as alojar durante as ações de limpeza" e referiu que o foco, relativamente aos sem-abrigo, não deve ser este e não se deve fazer "política com estas pessoas".

"O problema destas pessoas é a habitação que é um direito, não são limpezas de rua. Estas pessoas não deviam sequer estar ali", referiu.

Ainda sobre esta ação em particular confirmou ao SAPO24 que efetivamente tinha sido feita na Avenida Almirante Reis, esta manhã, e que, entretanto de acordo com as equipas de rua da Crescer as pessoas já tinham de novo as suas tendas nos lugares de onde a autarquia as tinha tirado. Além disso, todas estas pessoas terão sido informadas que esta ação iria acontecer e estavam preparadas para tal ao contrário de vezes anteriores.

Desmentiu também a ideia de existir alguma relação com a Jornada Mundial da Juventude e reforçou que estes são procedimentos normais.

O SAPO24 tentou entrevistar a Comunidade Vida e Paz que também tem equipas de rua nesta zona que contactam diariamente com estas pessoas sem-abrigo da capital, mas não obteve qualquer resposta.