Numa mensagem enviada aos jornalistas, Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), organização responsável pela legal credenciação de todos os jornalistas em Portugal, confirma ter tido conhecimento "das ameaças contra jornalistas e dos danos causados em, pelo menos, uma viatura de serviço, no âmbito da cobertura da campanha eleitoral de um candidato às Eleições Presidenciais".
Para a comissão, trata-se de "acontecimentos gravíssimos e uma ameaça séria ao cumprimento da missão do jornalista, especialmente neste período de campanha eleitoral, fundamental para a democracia".
Em causa está um comício do deputado André Ventura, com um jantar em Braga que juntou cerca de 170 pessoas num espaço fechado, no passado domingo, dia 17. Militantes e apoiantes do Chega e do candidato presidencial hostilizaram os jornalistas e repórteres de imagem durante o repasto coletivo, após ter sido noticiada a grande aglomeração em tempo de “dever de recolhimento domiciliário” devido à pandemia de covid-19.
Na altura, em nenhum momento do seu discurso, em Braga, o deputado único do Chega e candidato a chefe de Estado se demarcou daqueles apoiantes, que “brindaram” os repórteres com um cântico: “Pouco importa, pouco importa/se eles falam bem ou mal/queremos o André Ventura/Presidente de Portugal”, entre gestos típicos de claque de “ultras“ de futebol e até uma ou outra saudação nazi.
Na sua breve intervenção, a anteceder o líder do partido da extrema-direita parlamentar, o diretor de campanha e mandatário nacional, além de membro da direção nacional do Chega, Rui Paulo Sousa, afirmou que os “inimigos, adversários estão lá fora, mas alguns estão cá dentro”, motivando mais gestos ameaçadores dos convivas mais animados.
A distrital de Braga do Chega inclui concelhias como Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Barcelos, Fafe, Vizela, entre outras.
Já depois da debandada geral, alguns apoiantes de Ventura foram filmar e fotografar os jornalistas a trabalharem na sala que fora reservada para a comunicação social.
A noite terminou com o estrago de um limpa para-brisas traseiro da viatura caracterizada com o símbolo do Grupo RTP, mas que está ao serviço da rádio Antena1, um dos canais da emissora pública que acompanha a campanha eleitoral de André Ventura.
Esta quinta-feira o secretariado da CCPJ anunciou estar "a desenvolver esforços para apurar os factos, tanto junto dos jornalistas envolvidos, como das autoridades policiais no sentido de identificar os responsáveis pelos insultos, ameaças e tentativas de agressão dos profissionais que faziam a cobertura noticiosa do jantar comício".
"É a segunda vez no curto espaço de dois meses que se verificam incidentes graves com jornalistas no decurso da sua actividade profissional. No dia 25 de Novembro a CCPJ emitiu um primeiro comunicado condenando a 'Violência contra Jornalistas' a propósito dos insultos, ameaças e tentativas de agressão a equipas de jornalistas do Observador e da TVI, que faziam a cobertura noticiosa da manifestação convocada pelo movimento do sector da restauração denominado 'A Pão e Água' no dia 14 de Novembro", lembra ainda a instituição, que na altura considerou os incidentes "extremamente graves" e reveladores, "por parte de uma parcela importante dos manifestantes, um enorme desconhecimento sobre o papel dos jornalistas e a importância do jornalismo para a defesa dos princípios democráticos garantidos pela Constituição, incluindo o direito de manifestação. Sem cobertura jornalística nenhum protesto teria visibilidade e impacto junto das autoridades e da população".
"O jornalismo livre é um dos pilares fundamentais do Estado de Direito e do funcionamento democrático de uma sociedade. A exigência que lhe deve ser feita é que cumpra esse papel com rigor, mas em caso algum essa exigência pode conter violência verbal e muito menos ameaças de violência física, como aconteceu naquela situação", acrescentava na altura.
"Fazemos por isso um apelo aos cidadãos para que, no respeito pelo trabalho dos jornalistas que os servem, não aceitem nem alimentem tentativas de deturpação, desinformação e manipulação do trabalho jornalístico, nomeadamente nas redes sociais, e que se se reflectem depois em formas de agressão contra os profissionais que no terreno desenvolvem um trabalho fundamental para o país".
O apelo seguiu também para as autoridades policiais "para fazerem respeitar a existência de condições dignas de trabalho para os jornalistas e às autoridades judiciais para que cumpram o estabelecido na lei, abrindo imediatamente processos de investigação aos responsáveis pelas agressões a jornalistas, já que este é um crime público.”
*Com Lusa
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