A investigação revela dados sobre o cérebro de bombeiros que podem ajudar a “treinar” decisões de salvamento em situações críticas de incêndio, é referido em comunicado enviado às redações. Neste sentido, "os cientistas procuraram identificar processos cerebrais envolvidos na tomada de decisão em condições extremas de combate a incêndios".

"Perante a monitorização da resposta cerebral durante a realização de jogos virtuais de salvamento, num estudo que teve a participação de 47 indivíduos, a equipa de investigação acredita que o uso deste tipo de tarefa – como a visualização de imagens em situações de alto risco, implicando decisões de resgate de pessoas em incêndios – podem ter grande importância para melhorar e treinar a tomada de decisão em situações de risco", é explicado.

"Ao analisar de que forma o cérebro resolve dilemas que envolvem decisões que podem salvar vidas, foi possível estudar o papel da experiência e o uso de estratégias de coping [conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais usadas pelas pessoas para enfrentar situações de stress, perante condições de elevada sobrecarga emocional para o indivíduo], por parte de bombeiros", refere Miguel Castelo-Branco, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e coordenador científico do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC.

Neste estudo, "foi possível perceber que os dilemas de decisão levaram à ativação de redes neuronais envolvidas na gestão da recompensa emocional e outras redes relacionadas com dilemas éticos e deontológicos".

Em concreto, a equipa de investigação conseguiu verificar que "a atividade neural relacionada com a decisão de resgatar pessoas diminuía em certas regiões cerebrais quanto maior a capacidade de usar estratégias de coping, o que sugere uma aprendizagem compensatória adquirida com a prática", avança o neurocientista.

Assim, este estudo mostra que “a experiência potencia a ativação de redes neuronais em função destas estratégias de superação emocional, e que o uso destes ‘jogos de escolha crítica’ que desenvolvemos para este estudo podem servir de treino para a tomada de decisão por parte de técnicos de combate a incêndios”, explica Miguel Castelo-Branco.

Participaram no estudo muitos bombeiros de corporações que estiveram envolvidas no combate aos incêndios de Pedrógão Grande. "Visualizaram cenários realísticos envolvendo vidas em risco para eles próprios e potenciais vítimas, tendo que tomar uma decisão de resgate", frisa o cientista. Portanto, o "jogo" mostra uma situação de combate a incêndios com situações de risco de vida, como casas a arder com pessoas em risco no interior. Neste contexto, o cérebro dos bombeiros foi estudado através de imagem por ressonância magnética funcional.

“Descobrimos ainda que a atividade cerebral em regiões relacionadas com a memória e a decisão – como o hipocampo e a ínsula – aumentava proporcionalmente à medida que o risco aumentava”, acrescenta o líder a investigação. Isto significa que “foi possível identificar áreas cerebrais cuja atividade se relacionava diretamente com o cálculo da probabilidade de eventos adversos, como a queda de uma casa em chamas ou a perda de vidas”, explica.

Paralelamente, foi possível verificar que pessoas que não desempenham funções de bombeiro, e que foram submetidas à mesma tarefa da decisão, “mostraram uma maior influência da ínsula nos circuitos relacionados com a seleção de ações apropriadas”, ou seja, “a forma como o cérebro controla a decisão depende da experiência e do treino”, elucida Miguel Castelo-Branco.