Assange chegou durante a noite a Canberra, a capital australiana, num avião privado, após passar os últimos cinco anos numa prisão de alta segurança no Reino Unido.

Ao sair da aeronave, o australiano ergueu o punho, atravessou a pista para abraçar a mulher Stella e depois o pai, diante dos olhares de dezenas de jornalistas.

"Está encantado por voltar para casa. Fica maravilhado só de olhar para o horizonte", disse a mulher de Assange, Stella, ao canal de TV australiano ABC, acrescentando que o casal ainda não teve tempo de conversar sobre o futuro. "Por isso, pedimos privacidade e espaço para resolver as coisas."

Acusado de espionagem, o australiano foi declarado "homem livre" pela Justiça dos Estados Unidos. "Com este julgamento, parece que poderá sair desta sala de audiência como um homem livre", declarou a juíza Ramona V. Manglona após uma breve audiência no tribunal federal dos Estados Unidos em Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, território americano no Pacífico.

Assange, no entanto, não poderá viajar para os Estados Unidos sem autorização, informou o Departamento de Justiça num comunicado.

Com o acordo, o ex-hacker de 52 anos, acusado de ter publicado centenas de milhares de documentos confidenciais americanos na década de 2010, declarou-se culpado de obter e divulgar informações relativas à defesa nacional.

"Enquanto jornalista, incentivei minha fonte a fornecer material confidencial", declarou Assange nesta quarta-feira no tribunal, em referência à soldado americana Chelsea Manning, que vazou as informações.

As revelações de Assange colocaram pessoas "em perigo", declarou em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

A informação "identificava pessoas em contacto com o Departamento de Estado, incluindo líderes da oposição" e "ativistas de direitos humanos de todo o mundo", acrescentou.

"Hoje é um dia histórico. Encerra 14 anos de batalhas jurídicas, incluindo sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres", disse uma de suas advogadas, Jennifer Robinson.

Sofrimento

"Sofreu muito pela sua luta pela liberdade de expressão, a liberdade de imprensa", afirmou Barry Pollack, outro advogado da sua equipa.

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, que foi advogado de Assange, celebrou o facto de "ele poder finalmente ser um homem livre".

"O importante é que está livre, pode ser que, posteriormente, os seus advogados analisem outras possibilidades, porque o que foi feito com Assange é criminoso", disse à AFP o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, que lhe concedeu asilo na embaixada do Equador em Londres em 2012.

Assange deixou na segunda-feira o Reino Unido, onde passou cinco anos preso, depois de aceitar declarar-se culpado perante a Justiça dos Estados Unidos.

O acordo implicava a apresentação de apenas uma acusação contra o fundador do WikiLeaks, "conspiração para obter e divulgar informações relacionadas com a defesa nacional", pela qual foi condenado a 62 meses de prisão, pena que foi cumprida com os cinco anos que passou em prisão preventiva.

Assange negou-se a viajar para o território continental dos Estados Unidos e pediu para comparecer no tribunal das Ilhas Marianas do Norte, um território próximo da Austrália, segundo um documento judicial.

O acordo encerra um processo iniciado há quase 14 anos. O governo britânico havia aprovado a extradição para os Estados Unidos em junho de 2022, mas a 20 de maio a Justiça concedeu a Assange o direito de recorrer numa audiência programada para 9 e 10 de julho.

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, revelou que "todos os tipos de pessoas" visitaram recentemente os Estados Unidos e ajudaram a concluir o acordo.

Assange foi acusado de divulgar, a partir de 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, entre outros países.

Recebeu inicialmente 18 acusações e, em tese, enfrentava o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão com base na Lei de Espionagem ("Espionage Act").

O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, após passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia numa investigação por violação, que foi arquivada no mesmo ano.