Um grupo de empresários do setor da restauração, bares e comércio arremessaram hoje garrafas contra agentes da PSP e queimaram caixões durante uma manifestação na Avenida dos Aliados, no Porto.
De acordo com a SIC Notícias, presente no local, centenas de pessoas manifestaram-se esta tarde no Porto. Nas imagens é visível a presença das forças policiais, que tentaram dispersar os ajuntamentos, dando origem a confrontos.
O protesto, que começou cerca das 16:00 e reúne empresários a contestar medidas que consideram restritivas impostas pelo Governo de António Costa para travar a pandemia de covid-19, resultou em “desacatos” com a polícia que o está a controlar.
Originalmente, a manifestação seria pacífica. Os manifestantes, que mostravam faixas e cartazes, levaram também para o local caixões, aos quais foi ateado fogo, simbolizando a morte do setor.
"Costa: faz outra proposta", "Estão a matar quem não tem covid" e "Nove meses para nascer, nove meses para morrer" são alguns dos cartazes hasteados nas escadarias da Câmara Municipal do Porto e que mostram o descontentamento do setor.
Munidos de frigideiras, colheres de pau, panelas e outros utensílios, os empresários consideram as medidas de apoio anunciadas pelo Governo "insuficientes".
À Lusa, agentes da autoridade no local explicaram que os confrontos começaram quando os manifestantes tentavam apagar o caixão que se encontrava a arder junto à estátua de Almeida Garrett, na Praça General Humberto Delgado.
Em circunstâncias em que nem agentes da PSP ouvidos pela Lusa conseguem clarificar, num momento em que a polícia se aproximou dos manifestantes, estes começaram a arremessar garrafas e pedras contra os agentes e contra uma carrinha policial que se encontrava do lado direito do edifício da Câmara do Porto (no sentido descendente da avenida dos Aliados), verificou a Lusa no local.
De acordo com a polícia no local, até cerca das 18:00 não tinha sido feitas detenções, mas foi necessário um reforço de policiamento na Avenida dos Aliados, tendo sido chamadas mais quatro equipas de intervenção policial, cada uma com cerca de cinco elementos.
Os ânimos acabaram por se acalmar, ainda antes da chegada do reforço policial.
Tiago Caetano, do "Movimento a Pão e Água", em declarações à SIC Notícias, afirmou que o movimento não se encontra em protesto apenas pelas discotecas, restaurantes e bares que estão encerrados. "Estamos aqui, sim, por todos os setores que estão a ser massacrados com estas medidas do governo", enfatizou.
Sobre os confrontos com a polícia, esclareceu que "não houve aqui qualquer confronto entre os manifestantes", mas que o protesto se tornou "muito grande e ninguém consegue controlar toda a gente".
"Numa só palavra: não existe violência. Existe, sim, desespero. Isso é o que se consegue ver aqui. Desde a senhora que tem uma loja há 50 anos, um pequeno comércio, que não consegue trabalhar", rematou.
Questionado pelo jornalista da SIC Notícias sobre se o movimento tem receio de que as imagens desta tarde possam criar opinião negativa contra os manifestantes, Tiago Caetano respondeu que não tem medo que isso aconteça.
"Não temos qualquer medo que isso aconteça. A manifestação já começou há algum tempo. Nós somos todos pessoas educadas e com deveres cívicos. Não queremos partir nada, não viemos aqui para isso. Viemos aqui em protesto, sim, mas um protesto cívico e foi o que aconteceu. Nós montámos um funeral e as nossas campas todas, que é o que vai acontecer se não forem tomadas medidas porque não vamos conseguir aguentar", indicou.
Antes dos confrontos entre manifestantes e a polícia, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, tinha ido saudar a organização pelo civismo que estava a vincar o protesto. Em declarações à SIC Notícias, explicou que faz questão de marcar presença em "todas as manifestações ordeiras que decorrem aqui [Avenida dos Aliados]".
"A manifestação é o direito das pessoas e a Câmara e o Presidente da Câmara devem respeitar as manifestações. Não é a primeira vez e infelizmente não será a última", frisou o autarca, salientando que o protesto decorre porque estão em causa muitos postos de trabalho.
O movimento questiona como é possível a um negócio, estando fechado, e sem data de abertura prevista, poder fazer uma gestão eficaz dos seus recursos e ao mesmo tempo suportar encargos fixos mensais.
Para atenuar as dificuldades sentidas, os empresários exigem a adoção de um conjunto de 16 medidas, entre as quais a atribuição de apoios imediatos, a fundo perdido, aos bares e discotecas, eventos, restauração e comércio, pela redução de horário, bem como, a todos os fornecedores diretos e indiretos.
Pede-se ainda a reposição dos horários de restaurantes, bares e comércio local e defende-se a isenção da Taxa Social Única (TSU), a redução no pagamento das rendas e do IVA determinando o pagamento automático em seis prestações.
Os empresários exigem igualmente a abertura imediata e injeção direta nas empresas, sem a contrapartida de ter os pagamentos às Finanças e à Segurança Social em dia, e de defendem o acesso dos sócios-gerentes ao lay-off.
O movimento quer também o reforço imediato das linhas de crédito, retirando limitação de acessos às novas linhas a quem já recorreu às linhas anteriores, a isenção de impostos nas rendas dos imóveis arrendados, durante o período de proibição de exercício da atividade e prolongamento dos contratos de arrendamento, com duração de mais de três anos.
Por outro lado, pede-se a anulação de multas por pagamento atrasado de impostos e o prolongamento dos apoios da Segurança Social aos trabalhadores independentes.
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