Em conferência de imprensa realizada no Instituto Nacional de Saúde, em Lisboa, a Diretora-Geral de Saúde, Graça Freitas, disse aos jornalistas que estão a ser preparados planos para "a eventualidade de haver uma escalada" de casos do Coronavírus em Portugal.

"Estive com as administrações regionais de saúde, com as autoridades de saúde e com alguns hospitais, justamente para prepararmos a segunda vaga de serviços se for caso disso”, adiantou Graça Freitas, dizendo que também reuniu com o INEM —" para ver como a sua rede de resposta será ativada” — e com a Autoridade Nacional de Aviação Civil, "pelas questões relacionadas com os aeroportos”.

“Estamos a preparar para uma fase seguinte, se houver. Se não houver, a preparação nunca é inútil", justifica Graça Freitas, pelo que foi dada indicação às unidades de saúde (hospitais e centros de saúde) para que os planos de contingência sejam "atualizados, reformulados, reavivados" de forma a haver profissionais formados e treinados e equipamento de proteção disponível.

A Direção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge tiveram hoje reuniões de trabalho com as administrações regionais de saúde, hospitais, Instituto Nacional de Emergência Médica, laboratórios e entidades aeroportuárias para "atualizar procedimentos" face ao surto do '2019-nCov'.

Quando às 20 pessoas repatriadas por Portugal da cidade de Wuhan, na China, e que chegaram a Lisboa no domingo, Graça Freitas menciona que estas se mantém "estão bem".

Os 18 portugueses e duas brasileiras vão permanecer em isolamento profilático durante 14 dias em instalações dedicadas para o efeito no Hospital Pulido Valente (Centro Hospitalar de Lisboa Norte) e no Parque da Saúde de Lisboa.

"Do ponto de vista de saúde nenhuma delas desenvolveu sintomas. Estão todas estáveis, melhorou-se bastante as condições neste isolamento profilático”, referiu a Diretora-Geral de Saúde, dando como exemplo o facto de ter sido criado "um circuito para elas, dentro da quarentena e sempre com máscara, para poderem sair dos edifícios e poderem vir à parte de baixo".

No entanto, apesar de uma das medidas de segurança quanto à vinda destes cidadãos ter sido o isolamento profilático, Graça Freitas recorda que, neste caso, a prática justifica-se porque estas pessoas "são especiais".

"Estiveram pelo menos 30 dias a viver no epicentro de uma epidemia do novo vírus. Teoricamente, ao longo da sua vida diária, antes da cidade [Wuhan] entrar em quarentena, podem ter contactado com mercados de animais, com pessoas, com estabelecimentos de saúde. Tiveram uma maior probabilidade de terem ficado expostos ao virus", disse a Diretora-Geral de Saúde, recordando ainda que o isolamento foi voluntário.

Quanto à realização de novas análises para voltar a despistar o coronavírus, Graça Freitas disse que não é "urgente", porque os repatriados "não desenvolveram sintomas". "Não há vantagens em repetir testes várias vezes. Estamos a vigiá-los muito perto e a ver qual vai ser a data ideal para repetirmos os testes", adiantou a Diretora-Geral de Saúde.

O número de mortos provocados pelo novo coronavírus (2019-nCoV) subiu hoje para 490, com 64 mortes registadas na China nas últimas 24 horas, anunciaram as autoridades de saúde de Pequim.

De acordo com as autoridades chinesas, citadas pela agência Associated Press, o número total de pessoas infetadas com o novo coronavírus, detetado em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei (centro do país), colocada, entretanto, sob quarentena, aumentou para 24.324.

Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há casos de infeção confirmados em mais de 20 países.

A Organização Mundial de Saúde declarou na passada quinta-feira uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adoção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial. No entanto, o novo coronavírus ainda não pode ser considerado uma pandemia.

A diretora-geral da Saúde de Portugal anunciou hoje que os dois novos casos suspeitos de infeção conhecidos ontem deram negativo. No total, Portugal registou quatro casos suspeitos, todos com resultados negativos.

O primeiro caso de suspeita de infeção pelo novo coronavírus em Portugal foi reportado em 26 de janeiro num homem regressado da China e que esteve sob observação no Hospital Curry Cabral, por suspeita de infeção pelo novo vírus detetado naquele país e o segundo deu-se com um cidadão de nacionalidade estrangeira que deu entrada no Hospital de São João, no Porto, em 31 de janeiro.

Estas são as principais recomendações das autoridades de saúde à população

O surto do novo coronavírus detetado na China tem levado as autoridades de saúde a fazer recomendações genéricas à população para reduzir o risco de exposição e de transmissão da doença. Eis algumas das principais recomendações à população pela Organização Mundial da Saúde e pela Direção-geral da Saúde portuguesa:

- Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;

- Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato;

- Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse;

- Evitar contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;

- Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos;

- Em Portugal, caso apresente sintomas de doença respiratória e tenha viajado de uma área afetada pelo novo coronavírus, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.

Combater a desinformação

A Organização Mundial da Saúde tem tentado também divulgar factos para combater a desinformação e mitos ligados ao novo coronavírus. Eis algumas dessas informações:

- É seguro receber cartas ou encomendas vindas da China, porque as análises feitas demonstram que o coronavírus não sobrevive muito tempo em objetos como envelopes ou pacotes;

- Não há qualquer indicação de que animais de estimação, como cães e gatos, possam ser infetados ou portadores do novo coronavírus. Mas deve lavar-se sempre as mãos após contacto direto com animais domésticos, porque protege contra outro tipo de doenças ou bactérias;

- Não há também prova científica de que o consumo de alho ajude a proteger contra o novo coronavírus;

- Usar e colocar óleo de sésamo não mata o novo coronavírus;

- As atuais vacinas disponíveis no mercado contra a pneumonia não previnem contra o coronavírus 2019-nCoV. Este novo vírus precisa de uma nova vacina que ainda não foi desenvolvida;

- Os antibióticos não servem para proteger ou tratar as infeções provocadas pelo coronavírus. Os antibióticos são usados para infeções bacterianas e não virais. Contudo, os doentes hospitalizados infetados com coronavírus poderão ter de receber antibióticos porque pode estar presente também uma infeção bacteriana;

- Pessoas de todas as idades podem ser afetadas pelo coronavírus. Contudo, pessoas mais velhas ou com doenças crónicas (como asma ou diabetes) parecem ser mais vulneráveis a ter doença grave quando infetadas.

Países confirmados com casos confirmados de coronavírus

Fora da China, Macau e Hong Kong foram confirmados mais de 170 casos de contaminação. Aqui segue a lista dos países que anunciaram casos de contágio do novo coronavírus desde o seu surgimento, em dezembro, na cidade Wuhan.

CHINA

O número de mortos chega a 490, com mais de 24.324 casos confirmados em todo o país, segundo o balanço oficial.

Macau, um destino turístico famoso pelos casinos e muito popular entre os turistas do continente, confirmou 10 casos.

Em Hong Kong foram registadas 21 pessoas com a doença. Uma faleceu.

REGIÃO ÁSIA-PACÍFICO

Austrália: Quatorze casos confirmados.

Camboja: Um caso.

Coreia do Sul: Dezenove casos confirmados.

Filipinas: Três casos, uma morte.

Índia: Três casos.

Japão: Trinta e três casos.

Malásia: Doze casos confirmados.

Nepal: Um homem contagiado, que se recuperou e recebeu alta.

Singapura: Vinte e quatro casos confirmados.

Sri Lanka: Um caso.

Taiwan: 11 casos confirmados

Tailândia: Vinte e cinco casos.

Vietname: Dez casos.

AMÉRICA

Estados Unidos: Onze casos confirmados.

Canadá: Quatro casos.

EUROPA

Alemanha: doze casos.

França: seis casos confirmados.

Espanha: um caso

Itália: dois casos.

Reino Unido: dois casos.

Bélgica: um caso.

Finlândia: Um caso.

Rússia: Dois casos, de cidadãos chineses.

Suécia: Um caso.

MÉDIO ORIENTE

Emirados Árabes Unidos: cinco casos.