Na conferência de imprensa realizada na sede da Direção-Geral da Saude, em Lisboa, Marta Temido disse que neste momento o Serviço Nacional de Saúde tem 1538 ventiladores, 85% dos quais com capacidade invasiva, para responder à pandemia da Covid-19.

Segundo a ministra, estes dados foram reportados pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), que reportou "ter comprado 1151 ventiladores, ter recebido em doação 247 ventiladores e ter recebido por empréstimo da Air Liquid 140 ventiladores", conseguindo assim "bem mais do que duplicar aquilo que era a capacidade ventilatória existente no início de março".

Estes números contabilizam já os 144 ventiladores hoje recebidos num voo fretado pela TAP, correspondendo "a compras, a doações da EDP e a doações de particulares", assim como a "compras realizadas por algumas câmaras municipais". 

Estes equipamentos — aos quais se juntam mais 280 monitores para utilização nas unidades de cuidados intensivos — vão "ser distribuídos de acordo com aquilo que foi a decisão técnica que teve em conta as necessidades manifestadas por diversos hospitais, a respetiva capacidade de aumento de camas e e de acordo com aquilo que foram as indicações dos mecenas", disse a ministra.

Marta Temido diz que vão chegar mais equipamentos ao longo do próximo mês, referindo para já que no dia 6 de abril vão chegar mais 508 ventiladores.

A este respeito, Diogo Serras Lopes, da vice-presidente da ACSS, reforçou que a entrega dos 144 equipamentos só foi possível com a colaboração da embaixada portuguesa em Pequim e com o ministério dos Negócios Estrangeiros. O responsável indicou ainda que, quanto aos 508 ventiladores a serem entregues, “está neste momento a ser tratado que seja fretado pelo menos mais um avião, talvez dois, até ao final da semana para trazer este material”.

O reforço dos equipamentos, refere a ministra, é uma consequência do "reforço da capacidade da medicina intensiva" que começou a ser feito no início de março e está a ser efetuado em resposta a um incremento dos casos de internamento devido à Covid-19.

"É particularmente importante que todos percebamos que a pressão sobre o internamento hospitalar está a crescer e que daí retiremos consequências", disse Marta Temido.

Atualmente existem 1084 pessoas internadas (mais 9 que ontem, significando um aumento de 1%), 267 das quais nos cuidados intensivos (mais 16 que as registadas ontem, sendo este um aumento de 6%).

Quanto a esta pressão, a ministra pediu um “esforço redobrado” de lares e unidades de cuidados continuados para acolher quem já não necessite de cuidados hospitalares.

Marta Temido apelou a que só estejam em internamento hospitalar “aqueles que efetivamente precisem de estar”, para que sejam geridas de “forma eficiente” as capacidades de internamento hospitalar.

A ministra da Saúde adiantou que, pela análise dos números, “cresceu o número de doentes com necessidade de internamento hospitalar, e concretamente, doentes com necessidade de internamento nos cuidados intensivos”.

“É importante que todos percebamos que a pressão sobre o internamento hospitalar está a crescer”, frisou.

Marta Temido defendeu igualmente a necessidade de se “prevenir bloqueios” à admissão de utentes noutras estruturas como lares e unidades de cuidados continuados.

Desta forma, a responsável deixou um “apelo redobrado” quanto à admissão de novos utentes em lares ou unidades de cuidados continuados, sublinhando que implicará sempre, de acordo com as normas, “um teste laboratorial e uma avaliação clínica pelos profissionais de apoio à instituição de destino” que ateste a inexistência de sinais e sintomas de infeção respiratória no momento da admissão.

Ainda assim, Marta Temido sublinha que, “independentemente do teste e da avaliação”, o utente seja colocado num período de quarentena “não inferior a 14 dias”, acrescentado que, “em situações específicas”, em que não seja possível realizar o teste, possa acontecer a admissão “desde que o utente fique em isolamento”.

Marta Temido abordou ainda o caso dos doentes que recebam tratamentos hospitalares, como a hemodiálise, ou que fazem deslocações aos serviços urgência durante um período inferior a 24 horas.

Para estes casos, a ministra reconhece que a “probabilidade de transmissão não tenha acontecido”, quer pela sua limitação temporal, quer pelo facto de apenas terem mantido contacto com profissionais de saúde “com barreiras de proteção”.

No caso de ser alguém que está a sair de um internamento hospitalar, a recomendação, segundo a ministra, é de que o hospital promova a realização do testes antes de regressar à instituição.

“Se for positivo e o utente não tenha necessidade de cuidado hospitalar, apelamos a que regresse à unidade em que estava”, apelou Marta Temido, recomendando que as pessoas nestes casos devem ficar isoladas e com cuidadores em dedicação exclusiva, além de terem um acompanhamento clínico de equipa de saúde familiar.

Marta Temido pediu ainda uma “atenção especial para os mais vulneráveis com mais de 70 anos”, sublinhando que as urgências hospitalares “não são hoje nem nunca foram o melhor sítio para os proteger”.

Testes têm-se atrasado, mas situação ficará resolvida durante a semana

A ministra admitiu haver neste momento alguns atrasos na realização de testes, se bem que indicou que estes problemas ocorrem sobretudo no setor privado. "Há entidades que estão a marcar a realização do teste laboratorial para períodos mais distantes do que aqueles que estamos a garantir no SNS", disse Marta Temido, falando de um esforço de articulação com os laboratórios para "melhorar aquilo que é o cumprimento das respostas rápidas de referência".

Avarias de equipamentos e dificuldades de acesso a zaragatoas registam-se entre as razões para estes atrasos, pelo que Marta Temido indicou que as entregas a serem feitas neste momento de zaragatoas — recebidas ontem — e de reagentes poderão criar "ma situação bastante confortável e que ficará estabilizada à medida que as entregas regionais aconteçam".

"Esperamos que com as entregas que estão a ser feitas neste momento e com alguma redistribuição de utentes que faremos se for necessária, as coisas se equilibrem ao longo da próxima semana", disse.

Outra informação avançada foi a dos atuais números de profissionais de saúde infetados com a Covid-19. De acordo com a ministra, a informação com origem no SINAVE, à data de ontem, registava 1332 profissionais como casos confirmados de infeção, 231 médicos, 339 enfermeiros e 762 outros profissionais de saúde (sem a descriminação do grupo profissional específico).

“A informação de que dispomos não desagrega ainda entre profissionais de Saúde do SNS e profissionais de Saúde de todo o sistema”, admitiu Marta Temido, dizendo estar a ser feita uma "discriminação dessa informação" para "identificar eventuais fragilidades na proteção de determinados grupos profissionais".

As luvas e a falsa sensação de segurança

Durante a conferência, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, voltou a insistir que "nunca é demais repetir que o uso indevido de material de proteção pode ser mais contraproducente e trazer uma falsa sensação de segurança.”

Referindo-se especificamente à utilização de luvas no dia-a-dia, Graça Freitas recordou que "quer se tenha luvas ou não, se se tocar numa superfície contaminada, os vírus e as gotículas vão ficar na superfície das luvas, e portanto, se forem levadas à cara, à boca ou aos olhos, os vírus vão ser aí transmitidos”.

“As luvas são apenas uma falsa sensação, quanto muito serviriam para ser usadas apenas uma única vez, num único acto de contacto, descartadas, tiradas, deitadas fora”, reiterou a diretora-geral da Saúde, indicando que, se tal não for o caso, "usemos as nossas mãos, tentemos não levá-las à face e lavemo-las com frequência”.

Baixa taxa de letalidade ligada à população afetada

“As taxas de letalidade para esta doença refletem um conjunto de aspetos, não só o desempenho do sistema de saúde, mas também o que é a estrutura demográfica da população afetada”, disse Marta Temido, quando questionada sobre os valores da taxa de letalidade em Portugal serem superiores à média mundial.

Na conferência de imprensa diária na Direção-Geral da Saúde (DGS), a ministra da Saúde afirmou que a taxa de letalidade em Portugal é hoje é de 2,6%, mas há um conjunto de países no espaço europeu com taxas “bastantes superiores”, como Itália (12,3%), Reino Unido (10,3%) e Espanha (9,5%).

No entanto, acrescentou, existem outras, como a Alemanha ou Áustria, com taxas de letalidade de que Portugal gostaria de se aproximar.

“A estrutura demográfica da população, os hábitos de convívio, os hábitos sociais, a existência de estruturas residenciais de apoio para idosos ‘versus’ a permanência dos idosos em condições de habitalidade própria mais isolada e independente são aspetos que podem ser causas justificativas e que nos devem fazer refletir à medida que a epidemia avança”, disse Marta Temido.

Portugal regista hoje 295 mortes associadas à Covid-19, mais 29 do que no sábado, e 11.278 infetados (mais 754), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

O relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de sábado, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (158), seguida da região Centro (72), da região de Lisboa e Vale do Tejo (58) e do Algarve (07).

Relativamente a sábado, em que se registavam 266 mortes, hoje observou-se um aumento de 11% (mais 29).

De acordo com os dados da DGS, há 11.278 casos confirmados, mais 754, um aumento de 7,2% face a sábado.

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