Em comunicado, a comissão organizadora refere que "não há condições para a realização em segurança" das festas, previstas decorrer entre sexta e segunda-feira, "sem colocar em risco a saúde da população" do concelho raiano de Barrancos, no distrito de Beja.
"Nem sequer seguindo as recomendações e orientações da Direção-Geral da Saúde", que, "na esmagadora maioria de sítios e/ou locais" das festas "seria impossível de adotar", frisa a comissão de festas em Honra de N. Sra. da Conceição de Barrancos.
Segundo a comissão, não há condições para a realização em segurança de "nenhum" dos eventos e espetáculos das festas, "incluindo as centenárias e tradicionais corridas de touros" de morte, legalizadas graças a um regime de exceção aprovado em 2002.
Por isso, a comissão explica que tomou a decisão "muito difícil" de cancelar as festas deste ano "depois de um longo processo de maturação" e "tendo sempre presente a situação" da pandemia, que "continua a afetar" o mundo e "mantém todas as incertezas quanto à evolução e ao contágio da doença".
Conhecidas como "Fêra de Barrancos", as festas tornaram-se "famosas" pelos touros de morte e misturam celebrações religiosas e divertimentos pagãos em honra de N. Sra. da Conceição, a padroeira da vila raiana.
As festas são "o momento único do reencontro anual de toda a comunidade barranquenha com a terra, famílias e amigos e as suas tradições ancestrais", lembra a comissão.
"Para que estes reencontros continuem a perdurar no tempo, é necessário que os barranquenhos e seus familiares e amigos continuem bem de saúde e possam voltar", refere a comissão, frisando que "fazer uma pausa de um ano, por razões de saúde pública", foi "a melhor decisão".
Em declarações hoje à agência Lusa, o presidente da Câmara de Barrancos, João Serranito Nunes, disse que o cancelamento das festas é "uma machadada com impactos negativos em termos económicos, sociais e culturais, mas foi necessário, porque um valor mais alto se levanta: a saúde".
"São sobretudo festas de reencontros, convívios e partilhas entre a diáspora, familiares e amigos e, neste ponto de vista, o cancelamento" da edição deste ano da "Fêra de Barrancos" é "uma grande perda que deixa um vazio na comunidade de Barrancos", lamentou João Serranito Nunes.
Por outro lado, continuou o autarca, o cancelamento das festas vai provocar "um impacto negativo em termos económicos e prejudicar a economia local".
Segundo o autarca, devido à "fêra", na segunda quinzena de agosto, com o regresso da diáspora, a população em Barrancos "praticamente duplica" e "há ainda uma grande afluência de visitantes" durante os quatro dias das festas.
O aumento da população e de visitantes "deixa sempre marcas positivas nas vendas do tecido empresarial de Barrancos", sobretudo nos estabelecimentos de restauração e comércio, as quais "são muito significativas para a economia local" e este ano não se irão registar, devido ao cancelamento das festas, explicou o autarca.
Segundo João Serranito Nunes, até hoje, no concelho de Barrancos, registaram-se dois casos de pessoas infetadas pelo novo coronavírus e que já estão recuperadas.
De acordo com a comissão, a interrupção este ano das festas, "por razões de saúde pública, não terá qualquer repercussão na continuidade" das touradas de morte, que "está garantida pelos usos, costumes, tradições e, mais importante, pela lei".
A comissão refere que chegou a equacionar, mas abandonou a hipótese de adiar a edição deste ano das festas para o outono, "tendo em conta a clareza da norma da exceção" que legaliza as touradas de morte, a qual "cita claramente" que, "como expressão de cultura popular", decorrem "nos dias em que o evento histórico se realize, ou seja, entre 28 e 31 de agosto".
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