O último balanço das autoridades de saúde pública aponta para 13.141 casos confirmados de infeção e 380 mortes pelo novo coronavírus em Portugal.

Em conferência de imprensa, António Lacerda Sales, secretário de estado da Saúde, referiu que a taxa de letalidade global é de 2,9% e a taxa de letalidade acima dos 70 anos é de 11,3%.

Foi ainda referido que 86,4% das pessoas infetadas estão a recuperar no domicílio e 9,2% estão internadas, das quais 1,9% em Unidade de Cuidados Intensivos e 7,3% em enfermaria.

Sobre a curva epidemiológica, António Lacerda Sales referiu que "esta é importante para percebermos onde estamos e para onde vamos".

"No entanto, há uma coisa que não podemos perder de vista. A curva portuguesa pode ter oscilações, mas a nossa resposta à propagação do vírus tem de ser firme e determinada. Não podemos vacilar sob pena de se prolongar o que ninguém quer que se prolongue mais do que o estritamente necessário", disse.

O secretário de estado referiu ainda que uma das preocupações do Ministério da Saúde são as estruturas residenciais para idosos — os lares —, pelo que foram tomadas algumas medidas. "Interditaram-se as visitas, foram criados apoios à contratação de pessoal, foram disponibilizados materiais informativos relativos às normas de higiene e foi criado um mecanismo para que essas estruturas possam também receber voluntários", frisou, referindo ainda que, neste momento, estão a ser realizadas centenas de testes em lares, em utentes e profissionais.

"Mas é preciso reforçar uma ideia: Portugal só vence esta difícil provação com o empenho de todos, porque somos todos necessários neste caminho: profissionais de saúde, autarcas, IPSS, setor social, sociedade civil. Temos de estar à altura do que o país espera, porque precisa de todos nós e só em conjunto conseguimos vencer", afirmou.

Lacerda Sales referiu ainda que, desde o dia 1 de março, foram processadas mais de 130 mil amostras para diagnóstico do novo coronavírus em Portugal e, a partir desta quarta-feira, esta informação "estará também disponível diariamente num microsite dedicado à Covid-19".

Neste momento, a capacidade instalada diária de testes em Portugal é de cerca de 11 mil. "Procuramos que os materiais necessários e os kits de testagem cheguem aos locais que mais precisam e de uma forma equitativa. A título de exemplo, na passada semana, foram distribuídos 65 mil testes no norte do país".

Lacerda Sales referiu ainda que "o mesmo se passa em relação aos equipamentos de proteção individual, ventiladores e a todos os materiais e dispositivos necessários para combater esta pandemia".

João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a Covid- 19, também presente na conferência de imprensa, explicou como é feito este trabalho.

"A resposta da medicina intensiva tem sido excelente. Temos conseguido aumentar a capacidade instalada na medicina intensiva e aumentar a resposta nesta situação de pandemia e isso deve-se ao esforço de todos", disse, enumerando os profissionais da medicina intensiva, da administração central de saúde, da SPNS e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. "Há um esforço global que nos permite acompanhar este desafio e tentar ultrapassá-lo".

"Não há medicina intensiva sem equipamento, mas também não há sem recursos humanos", apontou João Gouveia. "Em termos de equipamento, temos uma carência de ventiladores, de monitores, de câmeras de medicina intensiva de nível 3 e isso tem estado a ser combatido. Temos conseguido obter esse material e estamos a fazer a sua distribuição de acordo com critérios objetivos de efetividade, segurança e urgência", precisou.

Contudo, João Gouveia admitiu que o número de médicos intensivistas pode não ser suficiente para a quantidade de ventiladores que está a chegar a Portugal — mas existem condições para formar outros profissionais, se for necessário, para assegurar o tratamento dos doentes que necessitem de ventilação invasiva.

“Podemos não ter, em número individual, médicos suficientes para poder tratar todos os doentes, mas está a ser pensada toda uma estrutura que permite o tratamento adequado desses doentes através do trabalho de outros profissionais, sob responsabilidade dos intensivistas”, explicou.

Segundo o presidente da comissão de acompanhamento, em Portugal existem mais de 260 médicos especialistas em medicina intensiva e, nos últimos dias, o país já recebeu 144 ventiladores novos.

“Podemos chegar a um ponto em que não temos recursos humanos suficientes para os recursos materiais que estamos neste momento a instalar”, admitiu João Gouveia, acrescentando que, à partida, já existe uma carência de medicina intensiva em Portugal.

Por outro lado, o secretário de Estado da Saúde admitiu "dificuldades" com a falta de reagentes necessários para a realização de testes de diagnóstico à covid-19, manifestando disponibilidade para ajuste e afinação regionais dos rastreios.

“Não haja nenhuma dúvida de que há, garantidamente, um reforço da nossa capacidade de testagem. Não temos falta de testes ou zaragatoas. Temos algumas dificuldades nos reagentes de extração que estamos a tentar resolver. Todos estes componentes fazem os testes. Esta situação, em que estamos com maior dificuldade, estamos a tentar resolver para que possamos testar ainda mais e com maior reforço”, afirmou António Lacerda Sales.

O governante respondeu desta forma quando foi questionado, pela segunda vez, sobre o facto de Gondomar estar a fazer 40 testes diários apesar da capacidade de realizar 400.

Numa primeira resposta à questão dos jornalistas sobre o concelho de Gondomar, no distrito do Porto, António Lacerda Sales começou por "eventualmente admitir alguma assimetria de alguns locais para outros", bem como a intenção de "ajuste e afinação em relação à capacidade de testagem".

"Posso, eventualmente, admitir alguma assimetria de alguns locais para outros. Isso será um ajuste e afinação que termos de fazer todos os dias em relação a esta capacidade de testagem", observou.

"Tem havido uma certa estabilidade em ambas as curvas"

Questiona pelos jornalistas, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, admitiu hoje que Portugal pode já estar no pico, ou planalto, da curva epidemiológica do novo coronavírus.

"Nos últimos dias, tem havido uma certa estabilidade em ambas as curvas, a real e a projetada, o que pode indicar o planalto. Mas isto não é um dado garantido, teremos de esperar mais uns dias", disse.

"E se abrandarmos determinadas medidas, podemos ter um segundo pico ou planalto e uma segunda ou terceira onda. Temos de olhar para estes dados com muita cautela e precaução. Se abrandarmos as medidas que levaram ao abrandamento da curva, ela pode voltar a subir. Temos de ser cautelosos na análise dos dados reais e das projeções. Apesar de tudo, reconhecemos que tem havido uma estabilidade", explicou.

Sobre a imunidade da população, Graça Freitas sublinhou que, de momento, é impossível fazer uma estimativa de quantas pessoas contraíram efetivamente o vírus e de quantas já estão imunes à doença.

Ainda neste contexto, a diretora-geral da saúde falou sobre os testes sorológicos, que só devem ser feitos "quando há já uma subida de anticorpos, na fase de convalescença da doença". Este procedimento implica " tirar sangue a um elevado número de pessoas e testar anticorpos".

"A ciência ainda não consegue dizer-nos exatamente quando será esse tempo adequado. Podemos ter anticorpos ao fim de 15 dias e eles ainda não terem comportamento protetor. Em que dia é começam a subir os anticorpos, até onde sobem e qual é o nível que é considerado protetor? Quando soubermos mais sobre estes testes, será muito útil para decidir, para ter a última prova, se alguém está protegido e se pode voltar à sua vida normal", explicou Graça Freitas, referindo ainda que o Instituto Ricardo Jorge está a trabalhar com outros países em projetos-piloto para "afinar a metodologia dos testes e onde é que está o nível protetor".

Portugal regista hoje 380 mortos associados à covid-19, mais 35 do que na terça-feira, e 13.141 infetados (mais 699), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

O relatório da situação epidemiológica, com dados atualizados até às 24:00 de terça-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortos (208), seguida da região Centro (96), da região de Lisboa e Vale do Tejo (68) e do Algarve, com oito mortos.

Relativamente a terça-feira, em que se registavam 345 mortos, hoje observou-se um aumento de 10,1% (mais 35).

De acordo com os dados da DGS, há 13.141 casos confirmados, mais 699, o que representa um aumento de 5,6% face a terça-feira.

Os primeiros casos confirmados em Portugal foram registados no dia 2 de março de 2020.

A 17 de março, o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar, que a partir do dia seguinte ficou sujeito a cerco sanitário com controlo de fronteiras e suspensão de toda a atividade empresarial não afeta a bens de primeira necessidade. A medida foi, entretanto, prolongada até 17 de abril.

O país está desde as 00:00 de 19 de março em estado de emergência, prolongado igualmente até às 23:59 do dia 17 de abril.

A medida proíbe toda a população de circular fora do seu concelho de residência entre 9 e 13 de abril, para desincentivar viagens no período da Páscoa.

Novo coronavírus SARS-CoV-2

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, é uma infeção respiratória aguda que pode desencadear uma pneumonia.

A maioria das pessoas infetadas apresentam sintomas de infeção respiratória aguda ligeiros a moderados, sendo eles febre (com temperaturas superiores a 37,5ºC), tosse e dificuldade respiratória (falta de ar).

Em casos mais graves pode causar pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte. Contudo, a maioria dos casos recupera sem sequelas. A doença pode durar até cinco semanas.

Considera-se atualmente uma pessoa curada quando apresentar dois testes diagnósticos consecutivos negativos. Os testes são realizados com intervalos de 2 a 4 dias, até haver resultados negativos. A duração depende de cada doente, do seu sistema imunitário e de haver ou não doenças crónicas associadas, que alteram o nível de risco.

A covid-19 transmite-se por contacto próximo com pessoas infetadas pelo vírus, ou superfícies e objetos contaminados.

Quando tossimos ou espirramos libertamos gotículas pelo nariz ou boca que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. Estas gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies e depois tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos.

Estima-se que o período de incubação da doença (tempo decorrido desde a exposição ao vírus até ao aparecimento de sintomas) seja entre 2 e 14 dias. A transmissão por pessoas assintomáticas (sem sintomas) ainda está a ser investigada.

Vários laboratórios no mundo procuram atualmente uma vacina ou tratamento para a covid-19, sendo que atualmente o tratamento para a infeção é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.

Onde posso consultar informação oficial?

A DGS criou para o efeito vários sites onde concentra toda a informação atualizada e onde pode acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo. Pode ainda consultar as medidas de segurança recomendadas e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas em Portugal - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-Geral de Saúde.

(Notícia atualizada às 17h17)