Principais pontos da intervenção do secretário de Estado da Saúde, António Sales:

- registam 3.544 casos confirmados, mais 549 que ontem ( 18% mais). Há 191 casos em internamento e destes 61 nos cuidados intensivos. Registam-se 43 casos de recuperação

- "Portugal já está na fase de mitigação da pandemia: temos transmissão comunitária e nesta fase todo o sistema nacional de saúde está pronto para dar resposta a doentes com covid-19"

- "Falei com todos os presidentes da administração regional de saúde que disseram que todos estão operacionais, tendo criado os  circuitos covid e não-covid"

- "Estamos todos obrigados a uma utilização criteriosa destes serviços. SNS24 continua a ser a porta preferencial de entrada e cada um tem de aumentar os seus cuidados. É crucial que não adoeçam todos ao mesmo tempo"

- Chegaram ontem os primeiros 5000 testes dos 80 mil esperados esta semana; os restantes "chegam no início da próxima semana".

- "Há 30 mil testes em stock entre público e privado. Estamos preparados para esta fase"

- Activados planos de intervenção na saúde mental em contexto de catástrofe. "Neste momento, as regiões de saúde do Algarve, do Alentejo, de Lisboa e Vale do Tejo, do Centro e do Norte já têm planos ativados o que vai permitir um conjunto de respostas em saúde mental integradas com os diferentes níveis de prestação de cuidados"

- O apoio psicológico aos profissionais envolvidos na pandemia "também está assegurado e é crucial"

- "Esta pandemia tem posto à prova os sistemas de saúde de todos os países do mundo e temos todos razão para nos orgulharmos do nosso serviço nacional de saúde"

Diretora-geral de Saúde, Graça Freitas

- "Iniciamos a fase de mitigação. Uma palavra [de tranquilidade] para as pessoas que vão adoecer daqui para a frente. Até aqui estavam habituadas a um circuito quando adoeciam que era ir para um hospital de referência e esse hospital encaminhava para onde fosse necessário, e a partir de agora muitas pessoas vão ficar em casa. Isso é um bom sinal, quer dizer que têm patrologia ligeira e que a sua doença provavelmente vai evoluir bem"

- "A quem for dito pela linha de SNS 24, pelo seu médico assistente ou enfermeira de família que o melhor sítio para ficar é o seu domicílio, que fiquem tranquilas. Muitos doentes que passaram pelos nossos hospitais depois foram para o domicílio e fizeram lá a sua recuperação"

- "Ficar no domicílio é uma boa opção para doentes com doença ligeira ou moderada, sobretudo os muito ligeiros" (...) "se for  necessário passarão para outro nível de cuidados"

Perguntas dos jornalistas

 - Este patamar significa que vão ser feitos mais testes? O que é que as pessoas podem contar a partir de hoje? O número de mortes é preocupante? E os cuidados intensivos, há uma pressão maior?

Graça Freitas:

"A doença é de longa evolução. À medida que temos mais doentes e que vai passando mais tempo, podemos ter doentes em situação mais grave (...) Infelizmente alguns destes casos graves vão evoluir para morte. (...) Dentro da letalidade, no nosso país é pouco superior a 1% para todos os grupos etários, mais é mais elevada nos grupos etários mais velhos, acima dos 70 anos (...) Estamos dentro do número expectável (...) O critério a partir de agora para ligar para o SNS24 é ter sintomas: sabe-se hoje que o sintoma mais precoce e aquele que dá mais nas vistas é a tosse, depois a febre e a dificuldade respiratória, numa altura em que já passámos a época gripal e também se não tiver alergias e tussa frequentemente, deverá levar essa pessoa, sem pânico e com calma, se o seu estado for estável, a procurar a linha SNS24. Sem pânico porque não há um agravamento súbito dos sintomas, não se passa diretamente de uma fase de tosse para ter de repente dificuldade respiratória grave"

"O objetivo dos testes é sobretudo detetar casos positivos precocemente para os podermos isolar, uma vez que os casos negativos não significam grande coisa porque uns dias depois uma pessoa pode ter outro contacto com o vírus ou estar em período de incubação e desenvolver um teste positivo".

- Os testes rápidos vão ser uma opção para lares e instituições públicas? 

Fernando Almeida:

"Tem havido a tendência e a tentação de se avançar para testes rápidos. O Instituto Ricardo Jorge tem sido bastante ponderado na utilização deste tipo de testes. Os testes recomendados pelo CDC e pela OMS são os clássicos do PCR (...) há outros três tipos de testes, que são os chamados rápidos, e que nenhum teve ainda parecer positivo do Instituto Ricardo Jorge, nem do Infarmed (...) A questão que se deve colocar é sobre a utilização destes testes e em que circunstâncias devem ser utilizados. Quando queremos vigiar e fazer estudos de sequenciação e de identificação do gene para diagnóstico rápido, não há volta a dar: os testes utilizados são PCR em tempo real.

Se quisermos utilizar outro tipo de avaliação, nomeadamente os testes rápidos, mas de base serológica, em que vamos detetar uma coisa que se chama IGR ou IGG que são os anticorpos que as pessoas desenvolvem com contacto com a infeção, temos de ser muito parcimoniosos e criteriosos na utilização deste teste porque quando estes anticorpos só são detetados 7 a 10 dias depois da infeção, ou seja, não podemos utilizar estes testes como fonte de seleção (triagem).

Poderão ser muito válidos e vão ser muito validos para uma fase subsequente - e não vai demorar muito  - para percebermos o nível de imunidade da população portuguesa já tem em relação ao coronavírus. (...)

Há outro tipo de teste que é o caso de Espanha e de Inglaterra, que tem a ver com o diagnóstico rápido de antigénio, já não são os anticorpos da pessoa, são as partículas da superfície do vírus. Nestes temos de refletir muito bem sobre a questão da sensibilidade e da especificidade do teste ou seja, tenho de ter um teste que quando me diz que é negativo, é mesmo negativo, ou quando é positivo, é mesmo positivo (...) O grande problema é que muitos destes testes têm alguns problemas de sensibilidade em relação àquilo que é suposto ter e temos de ter garantias (...) [não podemos] ter uma pessoa que neste teste é negativo, ficarmos todos descansados e na realidade não é negativo e anda a disseminar"

- Há uma cadeia de contágio entre a Casa de Saúde de Idanha e o Hospital Amadora-Sintra, uma vez que há informações que existe uma enfermeira em comum?

António Sales:

"Não há ainda uma correlação definitiva e com certeza. Foram feitos 800 testes no Hospital Fernando Fonseca [Amadora-Sintra] (...) na passada sexta-feira começou fazer-se testes a doentes e profissionais. (...) O Hospital Fernando Fonseca vai testar todos os profissionais que se justificarem. (...) a informação que tenho é que houve 7 profissionais positivos e foram identificados 7 doentes positivos, há mais 30 doentes internados com covid positivo"

- Foi revogado o poder de decisão  às autoridades locais e regionais para obrigar quem entra nas fronteiras portuguesas a ficar de quarentena obrigatória ou isolamento profilático? E com que base tomou esta decisão?

Graça Freitas:

"É uma revogação temporária porque criamos um mecanismo novo para fazer estas determinações da autoridade de saúde para criar alguma uniformidade nacional e para que fique fundamentada a razão por que se tomou esta medida (...) Ou seja, são as autoridades de saúde de nível local e regional que avaliam o risco para a saúde da sua população e em função disso fazem a determinação, neste momento só está temporariamente revogado para uniformizar procedimentos - uma autoridade de saúde que no seu local entenda que deve impor uma série de medidas coletivas deve propor à autoridade de saúde nacional que depois articulará com a tutela e com os outros ministérios a as medidas a adotar. (...) É apenas uma forma diferente de funcionar, sendo que cabe a autoridade de saúde local fazer a avaliação do risco (...) As medidas vêm a mim que sou a autoridade de saúde nacional, que articularei com a senhora ministra que articulará com outros ministérios (...) muitas destas medidas não são estritamente do domínio da saúde, são também da administração interna. É uma revogação que dura umas horas (...) já tenho propostas dos meus colegas, autoridades de saúde, com esta avaliação do risco e as medidas que acham que são pertinentes, vou analisar, vou submeter à senhora ministra e obviamente muitas delas serão aprovadas porque é a autoridade de saúde do local que tem de avaliar e propor medidas, o papel nacional é de harmonização".