Sem mãos a medir, Virgínia Neto, da Associação de Promotores de Saúde Ambiente e Desenvolvimento Sócio Cultural, foca a sua ação nos mais vulneráveis que são também os mais expostos ao novo coronavírus: os mais velhos e doentes.

Para evitar que saiam à rua, os elementos desta organização fazem compras, levam medicamentos e alimentos às suas habitações, nomeadamente nos concelhos de Lisboa e de Loures.

“É um trabalho árduo. Todos os dias nos chegam necessidades, pessoas que precisam e temos de estar à altura para responder à necessidade das pessoas”, disse à Lusa.

A intervenção da associação está por estes dias centrada na freguesia de Santa Clara, em Lisboa, na antiga Quinta do Mocho, em Sacavém, e no bairro Santo António, em Camarate.

Segundo Virgínia Neto, as pessoas estão assustadas e a cumprir a quarentena, mas não é fácil, principalmente impedir que as crianças brinquem na rua ou obrigar os moradores a estarem reservados em casas sem condições.

“É uma situação bastante difícil, mas as pessoas estão a cumprir”, assegurou.

Maiores são as preocupações com os doentes provenientes de alguns países africanos, ao abrigo das evacuações clínicas, e que sem apoio estão espalhados pelo país e mais suscetíveis de serem infetados e infetar os outros.

“Quando chegam, muitos não têm família e saltitam de um lado para o outro. Com a pandemia, a situação é muito crítica e estas pessoas infelizmente não conseguem estar em confinamento”, afirmou.

Estes são também dias de ansiedade em relação ao amanhã, com muitos a não saberem quando poderão voltar a trabalhar, o que piora à medida que a precariedade é maior, nomeadamente nas áreas das limpezas e construção civil.

Sentimento partilhado por João Tatis Sá, presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social, que segue com preocupação os casos de cidadãos que ficaram sem trabalho e não sabem quando ou se voltarão a fazê-lo.

“A maior parte está com dificuldades, incluindo a possibilidade de serem despedidas”, disse à Lusa, recordando que a construção civil e as limpezas são as principais atividades desta comunidade em Portugal e que, com as obras quase paradas, começam a ficar sem ocupação.

Por outro lado, o confinamento obrigou à suspensão da entrega de ajuda, como apoio alimentar, da qual muitos moradores já começam a sentir falta.

Muitas das pessoas que ajudavam nesta distribuição têm alguma idade e doenças que as expõem mais à infeção, pelo que não podem cumprir essa missão.

João Tatis Sá alertou ainda para as limitações no cumprimento do confinamento devido às características das habitações, o que é um elemento de risco.

“É difícil estar sempre numa casa onde normalmente se entra e sai para as mais variadas ocupações, seja trabalho, seja escolas. E pior quando um dos moradores é doente”, salientou.

Para Salimo Mendes, presidente da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, em Setúbal, conhecido como Bairro da Jamaica, onde vivem cidadãos de países lusófonos, as condições das casas já há muito que causam problemas de saúde aos moradores, nomeadamente respiratórios, por causa da humidade, mas isso não impede que estes estejam no seu interior.

Em parte, este confinamento resulta da falta de trabalho, pois quase toda a construção está parada e, para já, os que trabalham por “biscates” não têm tido tarefas.

As mulheres que trabalham em empresas de limpeza continuam a laborar, embora agora a um ritmo mais lento. Todos têm receio do futuro, pois não sabem quando poderão voltar ao serviço.

Neste bairro, cujo realojamento já foi anunciado, os moradores receiam agora que o mesmo não se concretize, tendo em conta que “tudo está parado”, referiu Salimo Mendes.

Andredina Cardoso, ativista social e deputada municipal em Sesimbra, revelou à Lusa que tem estado em contacto com várias associações para acompanhar os reflexos das medidas de combate à Covid-19.

Para já, tem conhecimento de empregadas de limpeza que ficaram em casa, mas algumas continuaram a ser pagas, e que não sabem como vai ser o futuro.

Acompanhou com alguma apreensão o ensino à distância, pois muitos são os agregados familiares sem meios de Internet ou equipamento para imprimir as tarefas escolares.

“Este é um problema, pois nem todos os alunos têm este acesso”, frisou a deputada municipal de origem cabo-verdiana.

Mais habituados ao recurso a novas tecnologias no ensino, os estudantes angolanos têm reagido com ânimo ao confinamento e “a respeitar as medidas”, contou à Lusa o presidente da Associação de Estudantes Angolanos em Portugal, Sivi Pedro.

“Estes estudantes continuam com vontade de adaptar-se às aulas ‘online’, consultar plataformas e programas inovadores”, adiantou.

Para já, esta população estudantil — cerca de 6.000 em todo o país — não se queixa da falta de ferramentas para o ensino à distância.

Sivi Pedro sublinhou a solidariedade entre esta população num momento como o que se vive: “Somos lusófonos e nestas alturas somos mesmo lusófonos”.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou cerca de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 63 mil.

Dos casos de infeção, cerca de 220 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com cerca de mais de 627 mil infetados e mais de 46 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, 15.362 óbitos em 124.632 casos confirmados.

Em Portugal, segundo o balanço feito sábado pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 266 mortes, mais 20 do que na véspera (+8,1%), e 10.524 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 638 em relação a sexta-feira (+6,5%).

Dos infetados, 1.075 estão internados, 251 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 75 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até ao final do dia 17 de abril, depois do prolongamento aprovado na quinta-feira na Assembleia da República.

A pandemia afeta já 50 dos 55 países e territórios africanos, com mais de 7.700 infeções e mais de 300 mortes, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC). São Tomé e Príncipe permanece como o único país lusófono sem registo de infeção.

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