Durante a pandemia, por força do confinamento, as pessoas mais velhas mantiveram-se em contacto com a família e amigos recorrendo ao telefone, a videochamadas e outras formas de contacto virtual. Fazer parte de programas como clubes de leitura ou simplesmente contar histórias aos netos ajudaram muitos avôs e avós a contrariar os problemas do isolamento.
No entanto, um novo estudo — um dos primeiros a avaliar as interações sociais entre famílias e a saúde mental durante a pandemia —, revela que muitas pessoas idosas evidenciaram mais sinais de solidão e problemas psicológicos a longo prazo como resultado desta mudança de socialização (para o virtual) do que aqueles que não recorreram à tecnologia e se mantiveram solitários durante o confinamento.
"Ficámos surpreendidos com a descoberta de que uma pessoa idosa que apenas teve contacto virtual durante o confinamento vivenciou uma maior solidão e impactos negativos na saúde mental do que uma pessoa idosa que não teve qualquer contacto com outras pessoas", afirmou um dos coautores do estudo, publicado nesta segunda-feira na Frontiers in Sociology.
"Esperávamos que ter contacto virtual fosse melhor do que o isolamento total, mas isso não parece ter sido o caso nas pessoas mais velhas", acrescentou ainda Yang Hu, da Universidade de Lancaster, citado pelo The Guardian.
O problema passa pelo facto de as pessoas mais velhas não estarem familiarizadas com a tecnologia — e considerarem ser stressante aprender a mexer nos dispositivos eletrónicos. Contudo, mesmo no caso daqueles que estavam familiarizados, estes consideraram muitas vezes que a sua utilização recorrente é tão stressante que era mais prejudicial para a sua saúde mental do que simplesmente lidar com o isolamento e a solidão.
"A exposição extensiva aos meios de comunicação digitais também pode causar esgotamento. Os resultados são muito consistentes", explicou o investigador.
"Não é apenas a solidão que foi agravada pelo contacto virtual, mas a saúde mental em geral: estas pessoas estavam mais deprimidas, mais isoladas e sentiam-se mais infelizes como resultado direto da sua utilização do contacto virtual", indicou Hu.
Ao The Guardian, o investigador salienta ser necessário que se encontrem formas mais seguras de ter contacto presencial em situações como a vivida nesta pandemia em emergências futuras. E, diz, é necessário reforçar a capacidade digital dos grupos etários mais velhos.
Para este estudo foram recolhidos dados de 5.148 pessoas com mais de 60 anos no Reino Unido e 1.391 nos Estados Unidos, antes e durante a pandemia.
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