Pensar num possível desconfinamento ou alívio de medidas, só quando forem registados 2.000 casos diários em média, Rt abaixo de 0,9 e uma positividade abaixo de 5% no total de testes feitos à covid-19. Quem avança com o número e a estimativa é Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ao Público, que se baseia num modelo de análise de risco.
"Só podemos desconfinar quando tivermos a um valor extremamente baixo do ponto de vista epidemiológico. Mas sabemos que mesmo isso não é suficiente por causa dos internamentos, uma vez que o período de ocupação [de camas hospitalares] é longo para este tipo de patologia", justifica ao jornal o investigador que trabalha com o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, especialista que está habitualmente presente nas chamadas reuniões do Infarmed, com o governo.
"O ideal seria chegarmos abaixo dos 3000 internados e abaixo das 300 camas de cuidados intensivos ocupadas", salienta ainda, frisando que o modelo só estima que se atinjam estes números para o final de março. No entanto, poderá demorar mais tempo e o período ser maior, uma vez que os números de internamentos tem estado a aumentar, apesar de o número de casos positivos nos testes diários estar a diminuir nos últimos dias.
De momento, de todos os indicadores, explica Carlos Antunes, só o Rt "está favorável" — entre 27 e 31 de janeiro, o valor médio, segundo a última divulgação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, foi de 0,92. Quanto aos outros indicadores, "ainda estão em níveis muito elevados: a positividade, embora a baixar, ainda está na zona dos 15% e a incidência em termos médios está nos 6000 casos de contágio". Ao nível de internamentos, de acordo com o último boletim epidemiológico, estão internadas em Portugal 6.248 pessoas com a doença, das quais 865 em unidades de cuidados intensivos.
No dia de ontem, o virologista Pedro Simas, também já tinha reforçado a necessidade de haver cautela no desconfinamento, defendendo que só deveria ser pensado quando o país atingir entre os 700 e os 1400 novos casos por dia.
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