A exposição “Uma escola de Abril” é inaugurada segunda-feira na Associação 25 de Abril e reúne trabalhos de crianças que no ano passado frequentavam o terceiro e quarto ano do primeiro ciclo do Ensino Básico na Cooperativa de Ensino de Benfica, em Lisboa, e realizaram desenhos sobre a revolução.
Os desenhos não passaram despercebidos à Associação 25 de Abril, que abraçou “de imediato a ideia” de os ver expostos, como disse à agência Lusa o presidente desta organização, o “capitão de Abril” Vasco Lourenço.
“Consideramos que é de pequenino que se torce o pepino e, tal como noutras situações anteriores, abraçámos de imediato a ideia”, disse, defendendo a importância das escolas na perpetuação dos valores de Abril.
Para Vasco Lourenço, as escolas deviam ainda ir mais longe nesse objetivo, “mostrando o que era Portugal antes [do 25 de Abril] e fazendo comparações com o que passou a ser depois, realçando a conquista da liberdade e da paz (fim da guerra colonial)”.
Questionado sobre os símbolos com que as crianças preferem ilustrar a revolução, Vasco Lourenço disse que, “para os mais novos, o 25 de Abril costuma ser simbolizado com o cravo vermelho (alguns, poucos, usam outras cores), mas também por soldados e chaimites. Por vezes, pela Grândola Vila Morena e pelo Salgueiro Maia. E também pela prisão dos maus (pides) e o quebrar das grades das prisões…”.
O cravo vermelho continua a ser o mais escolhido pelas crianças, o que, para este capitão de Abril”, representa “liberdade, paz e… romantismo”. E, se tivesse de escolher uma mensagem para a mostra, esta seria “o sonho comanda a vida”, disse.
Sobre a forma como as crianças desenham os capitães de Abril, Vasco Lourenço diz rever-se nas imagens e até com algum gosto: “É sempre um prazer enorme ver a forma como os mais novos nos desenham, muitas vezes com ingenuidade, mas sempre com o sentimento de espontaneidade, verdade e idealismo”.
Como anfitrião desta mostra, Vasco Lourenço destaca a importância de a Associação 25 de Abril acolher uma exposição destas, uma vez que é uma organização que “procura espalhar e aprofundar os conhecimentos sobre o 25 de Abril de 1974″.
“A presença junto dos mais novos constitui um dos nossos principais objetivos e preocupações. Fazemo-lo com idas às escolas – apesar do cansaço, que a idade não perdoa – e é com enorme satisfação que aqui acolhemos exposições como esta. Que se devem, em primeiro lugar – é bom acentuá-lo –, à ação de alguns professores (ou professoras)”.
Helena Barros, diretora pedagógica da Cebe, uma escola que nasceu no ano da revolução, disse à Lusa que “o 25 de Abril é matéria obrigatória, sendo que cada professor/educadora a trabalham de forma diferente”.
“Teatro, música, expressão plástica, vinda de pessoas ligadas à revolução à escola, filmes, entrevistas à tia [a forma como a diretora é tratada pelos alunos], são várias as formas de abordagem do tema”, adiantou.
Helena Barros recorda que os primeiros anos a seguir ao 25 de Abril “foram de grande envolvimento. Depois, veio um período em que se falava, mas não se vivia o dia em clima de festa. Em 2016 foi diferente, pois houve festa, teatro, canções, desenhos, pinturas… Foram envolvidos todos os alunos do pré-escolar ao primeiro ciclo e também dos crescidos e a prova está ai: Ainda a festejar!”.
“Para as crianças, o 25 de Abril é história. Já foi há muito tempo, mas percebem que foi muito importante e que se reflete ainda nas suas vidas. Os soldados são os heróis que derrotaram o ‘mau’. Sabem que foi tudo muito pacífico e que o facto de hoje poderem falar sobre tudo e dar opinião e poderem decidir coisas na sala de aula se deve a isso. Depois, há a parte lúdica, chaimites e cravos e as canções”, referiu.
Na opinião desta docente, a espingarda e o cravo são o símbolo que as crianças preferem desenhar para ilustrar Abril e “esperança”, a palavra que define a forma como os mais novos interpretam a revolução.
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