Depois do cortejo fúnebre que partiu da Academia Militar, em Lisboa, a urna que transportou o corpo Otelo Saraiva de Carvalho, que morreu no domingo, chegou ao início da tarde ao Centro Funerário de Cascais, em Alcabideche, onde o esperavam dezenas de pessoas e 10 militares da secção de Artilharia Antiaérea N. º1 do Exército.
Ouviram-se três salvas no momento de tirar o caixão, coberto pela Bandeira Nacional, do carro funerário, seguindo-se momentos de silêncio, em homenagem a Otelo Saraiva de Carvalho.
Numa tarja grande e branca, com letras em vermelho-escuro, podia ler-se “Obrigada, Otelo”, uma mensagem que foi repetida por muitos dos presentes durante a breve cerimónia que decorreu à entrada do crematório.
Cravos vermelhos, “Grândola Vila Morena” e palmas não faltaram na despedida do estratego do 25 de Abril.
No entanto, e tal como tinha acontecido na Academia Militar, várias pessoas manifestaram o seu desagrado por não ter sido decretado luto nacional pela morte do militar de Abril.
Aos jornalistas, o contra-almirante Manuel Martins Guerreiro, companheiro de Otelo no Conselho da Revolução, começou por afirmar que “o fundamental é que os portugueses sintam e queiram homenagear o Otelo”, considerando que isso aconteceu nos últimos dias.
“É de facto pena que as instituições, os órgãos de soberania não tenham sabido aproveitar esta oportunidade para fazer realmente uma homenagem ao Otelo, o homem que é de facto o símbolo do 25 de Abril”, lamentou.
Para Martins Guerreiro, o dia “inteiro e limpo” que foi o 25 de Abril – uma referência do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen sobre o dia da liberdade – deve-se a Otelo Saraiva de Carvalho.
“Ao Otelo e aos capitães todos que cumpriram a missão. Capitães que foram os capitães do Otelo, que o Otelo comandou naquele dia”, enalteceu.
Para o contra-almirante, “se havia um momento para se prestar uma homenagem nacional ao 25 de Abril, aos homens que fizeram o 25 de Abril, simbolizados no Otelo, tinha sido este o momento”, sublinhando que “os portugueses têm uma dívida de gratidão para com o Otelo pelo 25 de Abril”.
O cortejo fúnebre de Otelo Saraiva de Carvalho abandonou a Academia Militar, em Lisboa, cerca das 12:45, perante o aplauso de várias dezenas de pessoas, com cravos vermelhos nas mãos, alguns lançados em direção ao carro funerário em que seguia o corpo do estratego do golpe militar do 25 de Abril.
Alguns minutos antes, ouviram-se gritos de “luto nacional” por parte das pessoas concentradas junto à saída da Academia Militar, que também entoaram “Grândola, Vila Morena” e gritaram “Otelo, amigo, o povo está contigo”.
Na terça-feira deslocaram-se ao velório de Otelo Saraiva de Carvalho o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Nessa ocasião, foi o Presidente da República o primeiro a falar publicamente sobre a decisão de não ser decretado luto nacional, uma competência do Governo, considerando que para essa decisão contribuiu o facto de ter acontecido o mesmo quando morreram outros protagonistas da revolução, como Salgueiro Maia e Ernesto Melo Antunes.
No mesmo sentido, o primeiro-ministro afirmou depois que "obviamente o Estado curva-se perante a memória" de Otelo Saraiva de Carvalho e que não há luto nacional por coerência com o decidido na morte de outros protagonistas do 25 de Abril.
"Há formas múltiplas de homenagear os nossos grandes. Obviamente, o Estado curva-se perante a memória do coronel Otelo Saraiva de Carvalho", disse António Costa aos jornalistas enquanto ouvia gritos de “luto nacional” de algumas pessoas que aguardavam na fila para entrar na capela.
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