Os Serviços de Saúde de Macau aconselharam, na sexta-feira passada, a vacinação contra o mpox, com duas doses, aos profissionais de saúde e “às pessoas de alto risco”, incluindo as que praticam “atos sexuais arbitrários ou com parceiros sexuais múltiplos”.
A vacinação contra o mpox é gratuita para os habitantes com estatuto de residente. Mas para a mão-de-obra vinda do exterior, incluindo da China continental, as duas doses da vacina custam 3.460 patacas (392 euros).
“Quem estaria disposto a receber a vacina?” questionou Benedicta Palcon, uma representante da união de trabalhadores migrantes filipinos Greens (Greens Philippines Migrant Workers Union).
De acordo com dados oficiais, a mediana do rendimento mensal da população empregada em Macau era de 17.900 patacas (2.026 euros) no segundo trimestre deste ano.
Mas tanto Palcon como a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Migrantes Indonésios em Macau, Yosa Wari Yanti, estimaram que os trabalhadores domésticos recebem atualmente entre quatro mil e seis mil patacas (entre 448 e 679 euros) por mês em Macau.
“É impossível gastar praticamente um salário inteiro numa vacina. Além dos nossos gastos com alimentação e alojamento, quase todas enviamos dinheiro para as nossas famílias”, sublinhou Yosa.
Macau tinha 181.108 trabalhadores sem estatuto de residente no final de junho, representando 26,4% da população da região semiautónoma chinesa, de acordo com dados do Corpo de Polícia de Segurança Pública.
Yosa recordou que os não residentes “também contribuem para a economia de Macau” e alertou que dificultar a vacinação pode facilitar um possível futuro surto de mpox.
Antes com conhecida como “varíola dos macacos”, esta é uma doença viral que se propaga dos animais para os seres humanos, mas também é transmitida por contacto físico próximo com uma pessoa infetada com o vírus.
A nova variante do vírus pode ser facilmente transmitida entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.
“As empregadas domésticas trabalham seis dias por semana nas casas de famílias locais e algumas até dormem lá. Se um membro da família ficar doente, ficamos todos doentes”, explicou Yosa.
Em setembro e dezembro, Macau registou dois casos de mpox.
Na sexta-feira, a China anunciou o reforço da vigilância nas fronteiras, obrigando todos os aviões e navios provenientes de zonas afetadas pela doença a cumprir medidas sanitárias, estabelecendo protocolos de rastreio para os viajantes provenientes de regiões com surtos ativos, num conjunto de medidas que vai estar em vigor nos próximos seis meses.
Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, um alerta que foi inicialmente levantado em maio do ano passado.
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