O “estado da classe” vai ser analisado na IV Reunião Nacional do Sindicato dos Médicos Dentistas (SMD), que decorre hoje no Porto, e que será aberto também aos estudantes de medicina dentária e aos estomatologistas.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do SMD adiantou que Portugal tem mais do dobro do rácio de médicos dentistas definido pela Organização Mundial da Saúde, mas, ao mesmo tempo, é dos países da União Europeia que apresenta piores indicadores de saúde oral.
“Temos, neste momento, 850 habitantes por cada médico dentista e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 1.800 por cada médico dentista”, referiu João Neto, ao salientar que isso acontece quando 35% dos portugueses têm falta de seis ou mais dentes e 10% da população não tem mesmo nenhum dente.
Além disso, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera Portugal o terceiro país onde a população tem maior dificuldade de acesso aos cuidados de saúde oral, alertou o dirigente sindical, para quem “nunca houve um verdadeiro planeamento da saúde oral dos portugueses”.
“Existe um cheque-dentista que está obsoleto, há uma colocação de médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) que estão ilegais, com o próprio Estado a promover essa ilegalidade”, por falta de uma carreira profissional, realçou ainda João Neto.
Segundo referiu, 152 médicos dentistas que trabalham no SNS “estão ilegais”, uma vez que 22 estão como técnicos superiores, que é uma carreira administrativa, e os restantes 132 “estão como falsos recibos verdes”, com remunerações muito baixas.
Existem casos de “colegas que estão os cinco dias por semana, fazendo as sete horas por dia, e têm uma remuneração limpa de 300, 400 ou 600 euros”, lamentou o presidente do SMD.
Na última década, o número de médicos dentistas em Portugal aumentou significativamente, por falta de regulação, o que está a levar a que, todos os anos, mais de 600 médicos dentistas emigram para países com a França, Irlanda e Países Baixos, adiantou.
“Estamos a formar para exportar”, lamentou o presidente do sindicato, ao salientar que estão também a deixar o país profissionais com 20 ou 30 anos de experiência e não apenas os profissionais recém-formados.
Segundo dados da Ordem, no final de 2022, um total de 12.706 médicos dentistas tinham inscrição ativa para o exercício da profissão em Portugal, o que representava um crescimento de 3,8% em relação a 2021.
De acordo com os mesmos dados, o número de médicos dentistas com inscrição suspensa na Ordem bateu recordes em 2022. No total foram registados 2.077 profissionais nessa situação, a maioria dos quais (53,1%) suspendeu a inscrição para trabalhar no estrangeiro.
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