No final da audição, que durou cerca de quatro horas e a que se seguiu uma visita ao hospital, a comissão parlamentar classificou como “legítimas” as pretensões evocadas pelos 52 profissionais demissionários, lembrando estarem em causa reivindicações de condições de trabalho mais dignas para a prestação de melhores cuidados de saúde aos utentes e não de aumentos salariais.
Os demissionários foram hoje ouvidos em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, estando agendada para quarta-feira a audição do Conselho de Administração e para sexta-feira a do ministro da Saúde, ambas no Parlamento.
Segundo fonte da comissão, o diretor clínico, que faz parte do Conselho de Administração e que deveria ser ouvido na quarta-feira juntamente com os restantes elementos que o compõem, pediu para ser ouvido hoje, à parte dos demissionários, por não poder estar presente na audição por motivos de ordem pessoal.
À saída da audição, o social-democrata Luís Vales disse aos jornalistas que o PSD está “solidário” com os profissionais demissionários porque “falta quase tudo no hospital”.
Falando num problema “gravíssimo”, Luís Vales adiantou que os médicos dermatologistas não podem ver os seus doentes porque não têm marquesas nos seus gabinetes, que as estufas da anatomia patológica têm 50 anos ou que há falta de camas.
As necessidades “não saem do papel” por excesso de burocracia, referiu, acrescentando que a tutela deve “rapidamente” resolver as “enormes deficiências” deste hospital.
Entendendo as pretensões dos profissionais de saúde, o socialista António Sales vincou que estão “reunidas as condições” para que estes venham a reconsiderar a sua decisão.
O socialista lembrou que os problemas não são de agora, mas que tem anos e que atravessam Governos.
Vincando que a atual situação “não é consequência das cativações”, António Sales frisou que o PS quer privilegiar o setor público.
Pedindo respostas ao Governo, Cecília Meireles, do CDS-PP, comentou que os relatos que ouviu dos profissionais de saúde foram “impressionantes”, saindo da audição “mais preocupada ainda”.
“O que se exige é que [o Ministério da Saúde] diga a verdade e resolva os problemas”, frisou.
A centrista defendeu a elaboração de um plano funcional das obras para se perceber quando e como vão funcionar, reforçando que os demissionários estão “fartos de promessas”.
Segundo dados recolhidos durante a audição, o deputado do BE Moisés Ferreira avançou que o hospital de Gaia tem metade das camas de que necessitava, tendo 620 quando precisava de 1.200.
Dizendo ser “incontornável” a necessidade de aumentar o orçamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o bloquista disse que o ministro da Saúde e a política de Governo não podem estar “subordinadas a duas ou três décimas do défice”.
Já sobre se os demissionários falaram na necessidade de substituir o presidente do Conselho de Administração, tal como defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos, Moisés Ferreira revelou que essa questão não foi abordada.
“É uma necessidade imperiosa fazer algo pelo Hospital de Gaia”, reforçou Jorge Machado, do PCP.
Para o comunista, o centro hospitalar vive uma situação “dramática” com falta de recursos humanos, equipamentos ultrapassados e infraestruturas danificadas.
Alertando que “não há mais ninguém” que tenha intervindo tanto como o PCP, Jorge Machado espera uma “ação rápida” da tutela para um problema de “anos e de sucessivos governos”.
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