São João do Peso fica no concelho de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, a cerca de 10 quilómetros do Centro Geodésico de Portugal. É a freguesia com menos eleitores do continente e nem sequer tem uma junta, mas um plenário de cidadãos.
“Quando quero aprovar alguma coisa, tenho de chamar o plenário de cidadãos. Tenho de contactar todos os meus eleitores para ouvir o que têm a dizer sobre o assunto que queremos tratar”, explicou à Lusa Maria do Rosário Cavalheiro (PSD), a presidente.
Há quatro anos, os eleitores já eram menos de 150, pelo que o executivo da freguesia foi eleito de braço no ar, e este continua a ser o método de votação de todas as decisões que afetam a localidade.
“Dá mais trabalho, é mais gente a decidir, para aprovar qualquer coisa todos têm voz ativa e uma opinião. E as opiniões divergem”, realçou a autarca, salientando que o processo é, apesar de mais difícil, mais democrático.
Maria do Rosário Cavaleiro não pode ser uma autarca a tempo inteiro. Tem um emprego de que não pode abdicar, porque como presidente ganha 274 euros mensais.
“Tenho que gerir muito bem o meu tempo. Tenho direito a 32 horas [mensais], que tiro todas as quartas feiras para estar aqui. Para já, não sei que competências concretas me vão delegar. Mas, se tiver mais competências, tenho mais trabalho e tenho que gerir ainda melhor o meu tempo”, salientou.
A freguesia tem um único funcionário, a tempo inteiro, que foi contratado para coveiro - “mas que agora se chama ‘assistente operacional’”, como salientou a autarca - e é ele quem também faz todo o trabalho no exterior, incluindo a limpeza nas ruas.
O executivo eleito trata do resto, desde manter as portas abertas, aos pagamentos, ao tratamento do vencimento do funcionário, todo o trabalho de secretaria e os atestados para os fregueses.
“Quando [os fregueses] querem alguma coisa batem-me à porta. Muitas vezes, quando o ‘rapaz’ [assistente operacional] não tem tempo, sou eu que rego as flores. Como não temos empregada da limpeza sou eu que varro”, exemplificou a presidente.
Na terra, onde em 1925 nasceu o escritor José Cardoso Pires, só há um café e a única mercearia fechou.
“Uma coisa que também não temos é transportes públicos. Eu, ao fim de semana, se quero o jornal, pego no meu carro e vou ali a uma localidade que fica a um quilómetro”, disse, salientando que dispõem de um autocarro, às terças-feiras, para as pessoas irem à sede de concelho tratar dos seus assuntos.
Numa freguesia que tem um cemitério para gerir, mas não tem uma escola, porque as crianças são nomeadas pelos dedos de uma mão, a presidente até defende que se descentralize mais, mas a descentralização que pede é, sobretudo, outra.
“Eu acho que até deve haver mais descentralização dos serviços de proximidade, que estão todos canalizados para a sede de concelho. As atividades que o município faz podiam ser canalizadas para trazer pessoas até às freguesias, para as pessoas terem o conhecimento desta realidade. Para tirar-nos aqui um bocadinho do marasmo”, afirmou.
Numa aldeia muito envelhecida, as poucas crianças vão para a escola de Vila de Rei, jovens de 18 ou 20 anos também são meia dúzia e tem-se notado muito a saída dos mais novos, que compram casa fora e mudam o recenseamento, realçou.
“Isto está mesmo muito reduzido”, concluiu a autarca, quando já tinha perdido a desconfiança do início da conversa, altura em que se admirou muito por uma jornalista de Lisboa lhe ligar a ela, presidente da freguesia mais pequena do Continente, para saber o que esperava da descentralização de competências que o Governo quer transferir para as autarquias.
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