Um crente, na Roménia, não só acreditava em Deus, como o processou após ter caído "nas mãos do diabo". Em 2005, o romeno (que não foi identificado, sabendo-se apenas que estava preso em Timisoara) acusou Deus pelos seus problemas e avançou com um processo para ser ressarcido. "Deus recebeu diferentes valores materiais de mim, bem como orações, em troca de promessas de uma melhor vida. Na realidade, isso não aconteceu - vi-me nas mãos do diabo", lia-se na acusação, citada pela agência RIA Novosti.
Na opinião do queixoso, ao ter sido baptizado, tinha firmado um contrato de efeitos legais com Deus, que o devia proteger do diabo. A queixa visava a Igreja Ortodoxa romena, por "directamente representar Deus", devendo ser essa instituição a compensá-lo pelos danos. As autoridades judiciais consideraram que o caso devia ser arquivado, invocando razões tão laicas como se de outro caso qualquer se tratatasse, ou seja, o facto de o acusado não ser uma pessoa ou empresa, nem estar sujeito à jurisdição de um tribunal civil.
Dois anos depois, mas por outras razões, também Ernie Chambers, senador do estado do Nebraska nos EUA, processou Deus. A queixa foi apresentada em Setembro de 2007 e pode ser lida aqui. Ernie Chambers acusava Deus de "ter feito e continuar a fazer ameaças terroristas" com grave dano para inúmeras pessoas, bem como de ser responsável por inundações, terramotos, furacões, tornados, pragas pestilentas, fome, secas devastadoras ou guerras genocidas.
O senador pretendia que Deus parasse com as ameaças terroristas e restantes actividades. Dado Deus estar em todo o lado, o senador considerava que o tribunal tinha jurisdição para julgar o caso. Da mesma forma, por ser omnipresente e omnisciente, Chambers considerou que não era necessário intimá-lo.
Em Outubro de 2008, o juiz Marlon Polk acabou por arquivar o caso, já que Deus não podia ser notificado para se defender. No entanto, "o próprio tribunal reconhece a existência de Deus", disse Chambers à Associated Press. Uma consequência disso é "o reconhecimento da omnisciência de Deus", pelo que, "já que Deus sabe tudo, sabia desta queixa".
Por essa razão, recorreu da decisão do tribunal em Novembro desse ano. Um antigo senador americano e um sueco pediram para representar Deus. Após terem sido notificados por Chambers, o tribunal de recurso do Nebraska encerrou o caso em Fevereiro de 2009, declarando que "um tribunal decide controvérsias reais e determina direitos realmente controvertidos, e não aborda ou dispõe de questões abstractas ou problemas que podem surgir em situações ou cenários hipotéticos ou fictícios".
Nessa altura, já o senador formado em Direito tinha revelado que apresentou e prosseguiu com a queixa para demonstrar como processos judiciais fúteis e sem mérito legal estavam a ser analisados pelos tribunais. "Qualquer um pode processar quem quiser, até mesmo Deus", explicou, invocando o caso de uma mulher que, depois do seu caso ser decidido num tribunal estatal, recorreu para o tribunal federal para evitar que palavras como violação ou vítima constassem no seu testemunho.
Aposta-se que Deus existe?
Noutra dimensão, ainda em 2008, foi a vez da casa de apostas inglesa Paddy Power se meter a jogar sobre a existência de Deus. Em dois meses, os apostadores investiram quase 6.200 euros nessa decisão, motivada pelo arranque do Large Hadron Collider, no laboratório suíço CERN, quando se esperava que os físicos encontrassem o que alguns denominaram erradamente de "partícula de Deus".
As probabilidades subiram de 20-1 para 33-1 mas, quando o acelerador de partículas teve de ser parado por problemas técnicos, a Paddy Power baixou-as para 4-1. Ainda assim, a casa de apostas podia perder 62 mil euros, caso a existência de Deus se comprovasse. Mas esta "tinha de ser verificada por cientistas e dada por uma autoridade independente antes de ser feito qualquer pagamento", explicou um porta-voz da casa de apostas ao jornal The Telegraph.
"Está Deus Morto?"
A 8 de Abril de 1966, a revista Time tinha como tema de capa uma única questão: "Is God Dead?" ("Está Deus Morto?"). A publicação afirmava que "um pequeno bando de teólogos radicais argumentou seriamente que as igrejas devem aceitar o facto da morte de Deus, e seguir em frente sem ele". E citava Simone de Beauvoir: "Foi mais fácil para mim pensar num mundo sem um criador do que num criador carregado com todas as contradições do mundo".
Nem todos pensam assim. Um inquérito da Lou Harris no ano anterior extrapolava que 97% dos americanos acreditava em Deus, embora só 27% se considerasse profundamente religioso. Quase 50 anos depois, essa crença tem vindo a diminuir. Entre 2007 e 2014, passou dos 71% para os 63% aqueles que "acreditam em Deus com absoluta certeza" e dos 92% para os 89% nos que dizem acreditar em Deus, segundo inquéritos do Pew Research Center, que revelam ainda como nos jovens nascidos entre 1990 e 1996, se fica pelos 80%.
Por contraste, entre 2007 e 2014, a população adulta americana que afirmava não estar "filiada religiosamente" passou de 16% para quase 23% mas, dessa percentagem, 61% dizia acreditar em Deus.
Provavelmente, uma das melhores explicações para justificar a existência de Deus foi dada em Fevereiro pelo psicanalista António Coimbra de Matos ao diário Público. Disse ele: "O ser humano é de tal modo criador – e eu sou ateu! – que até criou um deus. Deus é uma criação do homem".
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