“Com o primeiro confinamento, o negócio do transporte de automóveis caiu cerca de 70%. Mantivemos alguns dos funcionários durante dois meses em ‘lay-off’ mas, perante a situação [da pandemia de covid-19] tivemos a ideia de criar esta fábrica. Quem gere uma empresa não deve estar apenas nas partes boas e o fundamental, para nós, foi manter os postos de trabalho”, contou à agência Lusa o empresário Avelino Rodrigues.
Natural do concelho de Vinhais, no distrito de Bragança, Avelino Rodrigues, de 59 anos, está radicado em Boticas, no distrito de Vila Real, desde 1985 e, além do ramo de transporte de automóveis que ainda mantém, possui dois restaurantes que até março representavam um total de 33 empregados.
Com o surgimento da pandemia de covid-19, as duas atividades ficaram em suspenso, o que levou Avelino Rodrigues a “abrir uma porta desconhecida” para “manter os postos de trabalho”.
Com um investimento de cerca de 700 mil euros, com acesso a fundos europeus, surgiu a Protecnor, que criou já 11 postos de trabalho.
Desde outubro, produz máscaras, cirúrgicas e comunitárias, e álcool-gel, sendo a exportação a grande aposta.
O pavilhão instalado na Zona Industrial de Boticas está nesta altura repleto de maquinaria ainda a brilhar.
Há máquinas de costura, máquinas que preparam o tecido para o fabrico de máscaras comunitárias, uma sala com uma linha de produção de máscaras cirúrgicas e duas linhas de produção de álcool-gel, uma para embalagens de meio litro e outra para embalagens de cinco litros.
O transmontano destacou que a concretização do projeto apenas foi possível com “muito trabalho e imaginação”.
“As maiores dificuldades foram na concretização do investimento, pois não conseguíamos comprar. Após batermos a várias portas, a entrega da maquinaria era estimada para março de 2021. Depois, em junho, conseguimos encontrar no sul de Espanha uma empresa que permitiu ter as máquinas em dois meses instaladas e prontas a funcionar”, salientou.
Natural de Boticas, mas a trabalhar em Famalicão após também ter estado emigrado em Angola, Jaime Pinho foi o homem encontrado por Avelino Rodrigues para concretizar a empresa.
“Reconheci no projeto uma importância estrutural geográfica muito grande. Quem é de Boticas e da região do Alto Tâmega sabe que há muitas dificuldades no interior. Esta foi uma forma de combater um pouco isso”, destacou à Lusa Jaime Pinho, de 45 anos, que divide agora a vida entre Boticas e Famalicão, onde tem a família.
O engenheiro florestal com mestrado na área do ambiente explicou que o principal foco desde o início tem sido “a qualidade do produto”.
“Fizemos questão de que a matéria-prima fosse nacional ou no mínimo europeia, produzida com todos os standards de qualidade. No caso das máscaras cirúrgicas, temos um processo de fabrico rigoroso e naturalmente com todas as certificações para poder ser utilizado como dispositivo médico”, assegurou.
A produção de máscaras cirúrgicas pode atingir as 25 mil por dia e chegar às 750 mil por mês, com o turno atual que pode ser aumentado.
Atualmente, a produção é contínua de forma a ter uma reserva pronta a vender em caso de encomenda.
A produção de álcool-gel permite engarrafar dois mil litros por dia, podendo atingir 50 mil litros por mês, mas neste momento é produzido consoante as encomendas.
Jaime Pinho revelou que a empresa foi criada com uma capacidade de adaptabilidade, caso estes produtos deixem de ter procura, para não ser apanhada “sem plano B”.
Assim, “todo o equipamento tem uma possibilidade de utilização diferente”.
Por exemplo, a produção têxtil pode “reinventar o produto, seja em outros equipamentos de proteção individual, ou até produtos simples como toalhas de mesa, guardanapos ou t-shirts”.
O desafio atual da Protecnor é, para Jaime Pinho, encontrar os mercados e vender: “O mercado nacional será sempre interessante, mas a internacionalização é fundamental. As limitações de mobilidade atuais têm sido um entrave, mas estamos, através de todos os meios digitais, a comercializar para o estrangeiro”.
Para atingir este objetivo, o proprietário da empresa, Avelino Rodrigues, conta com a experiência acumulada no negócio do transporte de automóveis.
Além de aproveitar os veículos e empregados para o escoamento do produto da nova empresa, utiliza ainda “os conhecimentos criados em vários pontos da Europa”.
Habituada ao trabalho administrativo na empresa de transportes, Sílvia Santos, de 44 anos, tem vivido agora a “aventura de apoiar a nova empresa”.
O mais importante, diz, foi o crescimento do grupo que, “numa vila pequena, permitiu dar oportunidade de emprego a mais pessoas”.
Um dos empregos criados foi o de Carla Lopes, de 38 anos, que devido à pandemia fechou o café que tinha em Boticas. Sem emprego, concorreu para a Protecnor e é atualmente a responsável pela produção.
“Tivemos formação para perceber como funcionavam as máquinas e agora está tudo a correr bem. Esta empresa surgiu na altura certa pois ganhamos empregos”, revelou.
[Diogo Caldas (texto) e Pedro Sarmento Costa (fotos)]
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